Tribunal Popular da Pesca: reciprocidades políticas em situação de crise da atividade pesqueira
DOI:
https://doi.org/10.22409/antropolitica2024.v56.i2.a55067Palabras clave:
Derramamento de óleo, Nordeste, Tribunal Popular da Pesca, Pesca artesanal, Vulnerabilidade.Resumen
O artigo enfoca a performance do Tribunal Popular da Pesca, ocorrido em 14 de janeiro de 2020, no RN, revelando-se como uma importante estratégia regional de mobilização da categoria profissional dos pescadores artesanais nas negociações e práticas de reciprocidade política em torno da luta por direitos na atividade pesqueira afetada pela catástrofe do derramamento de óleo no Nordeste, identificada entre agosto de 2019 e janeiro de 2020, chegando até a costa dos estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro no Sudeste do Brasil. A metodologia utilizada foi a observação participante no acompanhamento sistemático prévio ao Evento junto aos grupos de participantes e organizadores, continuando depois da realização deste. O artigo utilizou de revisão documental e bibliográfica da temática, trazendo reflexões analíticas sobre performance, direitos consuetudinários e direitos da legislação, assim como a ausência de justiça na reparação de violações de direitos adquiridos e retirados. Conclui pela eficácia simbólica da performance no que evidencia a injustiça frente à vulnerabilidade das populações pesqueiras tradicionais, se mostrando importante para a organização do litígio judicial posteriormente oficializado contra a União, denunciada por descaso na resposta para conter o óleo e na mitigação impacto deste nas comunidades que vivem do mar e do litoral.
Descargas
Citas
org et al. Carta Aberta à População Brasileira. Atalanta, 7 novembro, 2019. Disponível em: https://apremavi.org.br/wp-content/uploads/2019/10/Carta-aberta_Observatorio-do-Clima.pdf . Acesso em: 11 nov. 2019.
ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Nota Técnica Nº 27/2019/SEI/GGALI/DIRE2/ANVISA. São Paulo: Anvisa, 2019. Dispnoível em: https://www.nepomuceno.mg.gov.br/. Acesso em: 10 nov. 2022.
AZEVEDO, Natália Tavares de; PIERRI, Naína. A política pesqueira no Brasil (2003-2011): a escolha pelo crescimento produtivo e o lugar da pesca artesanal. Desenvolvimento e Meio Ambiente, Curitiba, v. 32, p. 61-80, 2014. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/made/article/view/35547. Acesso em: 27 mar. 2024.
ICMBIO. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Boletim Estatístico da Pesca e Aquicultura. Brasília: ICMBio, 2011. Disponível em: https://www.icmbio.gov.br/. Acesso em: 20 out. 2020.
BRASIL. Decreto-Lei Nº 221, de 28 de fevereiro de 1967. Brasília, DF: Congresso Nacional, 1967. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/deli/1960-1969/decreto-lei-221-28-fevereiro-1967-375913-normaatualizada-pe.html. Acesso em: 29 jun. 2022.
BRASIL. Lei Nº 11.959, de 29 de junho de 2009, 2009. Brasília, DF: Congresso Nacional, 2009. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/mpa/legislacao/legislacao-geral-da-pesca/lei-no-11-959-de-29-06-2009.pdf/view . Acesso em: 29 jun. 2022.
BRASIL. Decreto Nº 8.127, de 22 de outubro de 2013. Brasília, DF: Congresso Nacional, 2013 Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Decreto/D8127.htm. Acesso em: 29 jun. 2022.
BRASIL. Decreto nº 8.425, de 31 de março de 2015. Brasília, DF: Congresso Nacional, 2015. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/decreto/d8425.htm. Acesso em: 29 jun. 2022.
CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Tradução de Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre: Fabris, 1988.
CAVALCANTI, Maria Laura Viveiros de Castro. Drama, ritual e performance em Victor Turner. Sociologia & Antropologia, Rio de Janeiro, v. 3, n. 6, p. 411-440, 2013. Disponível em: 10.1590/2238-38752013v363. Acesso em: 26 fev. 2024.
CNDH - Conselho Nacional dos Direitos Humanos. Relatório da missão emergencial do derramamento de petróleo na vida de povos e comunidades tradicionais de Sergipe e Bahia. Brasília: CNDH, 2019.
COLAÇO, José. O Direito onde temos e o Direito onde não temos: reflexões sobre o fenômeno jurídico a partir da observação de dois estudos de caso entre pescadores artesanais no norte do Rio de Janeiro. Revista Juris Poiesis, Rio de Janeiro, v. 22, p. 292-308, 2019. Disponível em: https://app.uff.br/riuff/bitstream/handle/1/12008/6656-47971081-1-PB.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 27 mar. 2024.
CPP. Conselho Pastoral dos Pescadores. Procuradoria-Geral da República do MPF recebe os 200 pescadores e pescadoras artesanais na Plenária sobre Violações de Socioambientais em Comunidades Tradicionais Pesqueiras. CPP, Olinda, 2019. Disponível em: http://www.cppnacional.org.br/noticia/pescadores-e-pescadoras-artesanais-denunciam-viola%C3%A7%C3%B5es-de-direitos-%C3%A0-pgr. Acesso em: 29 jun. 2022.
CPP. Conselho Pastoral dos Pescadores. Conflitos socioambientais e violações de direitos humanos em comunidades tradicionais pesqueiras no Brasil. 2. ed. Olinda: CPP, 2021.
DEEGAN, Mary Jo. Interaction, drama, and freedom: the social theories of Erving Goffman and Victor Turner. Humanity and Society, Thousand Oaks, v. 2, n. 1, p. 33, 1978.
PF conclui investigação e diz que navio grego foi responsável por derramamento de óleo que atingiu litoral brasileiro. G1, Rio Grande do Norte, 2 dez. 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/2021/12/02/pf-conclui-investigacao-e-diz-que-navio-grego-foi-responsavel-por-derramamento-de-oleo-que-atingiu-litoral-brasileiro.ghtml. Acesso em: 27 mar. 2024.
IBAMA. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis. Manchas de Óleo - Litoral Brasileiro. Ibama, Brasília, 13 de dezembro de 2022. Disponível em: https://www.ibama.gov.br/manchasdeoleo. Acesso em: 17 jun. 2022.
IBAMA. Superintendência do Ibama no Estado de Sergipe. Nota Informativa nº 6411522/2019-SUPES-SE. Aracaju: Ibama, 2019. Disponível em: http://sei.ibama.gov.br/. Acesso em: 12 nov. 2019.
GOFFMAN, Erving. A representação do eu na vida cotidiana. Petrópolis: Vozes, 1975.
HERCULANO, Selene. Conflitos ambientais e territoriais: pesca e petróleo no litoral fluminense. Revista Nordestina de Ecoturismo, Aquidabã, v. 5, p. 39-52, 2012. Disponível em: https://sustenere.inf.br/index.php/nature/article/view/ESS1983-8344.2012.001.0004. Acesso em: 27 mar. 2024.
KNOX, Winifred. Vivendo do mar: modos de vida e de pesca. Natal: Ed. UFRN, 2009.
KNOX, Winifred; FERREIRA, José Gomes. Desastre ambiental e zonas de sacrifício: o derramamento de petróleo no Nordeste do Brasil e políticas públicas de estado. Revista da ANPEGE, Goiás, v. 18, n. 37, p. 89-105, 2023. Disponível em: https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/anpege/article/view/16273. Acesso em: 27 mar. 2024.
LATOUR, Bruno. La fabrique du droit. Une ethnographie du Conseil d’État. Paris: La Découverte, 2002.
LATOUR, Bruno; STENGERS, Isabelle; TSING, Anna; BUBANDT, Nils. Anthropologists are talking about capitalism, ecology, and apocalypse. Ethnos, v. 83, n. 3, p. 587-606, 2018. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/00141844.2018.1457703. Acesso em: 27 mar. 2024.
LÉVI-STRAUSS, Claude. L’efficacité symbolique. Revue de l'histoire des religions. Lyon, tome 135, n. 1, p. 5-27, 1949.
MAUSS, Marcel. Essai sur le don forme et raison de l’ échange dans les sociétés archaïques. L’Année Sociologique, Paris, v. 1, p. 30-186, 1923.
MARINHA DO BRASIL. Diretoria-geral de Navegação. Resumo do Relatório final do incidente de poluição por óleo na costa brasileira, Marinha do Brasil, 2020. Disponível em: https://www.achadosepedidos.org.br/uploads/pedidos/Resumodaconclusodorelatrio195265_1.pdf. Acesso em: 18 jan. 2020.
MENEZES, Allan Sinclair Haynes; LOBÃO, Ronaldo. Espaço e lugar nos conflitos socioambientais intratáveis: reflexões sobre o direito de permanência. In: MIRANDA, Napoleão; MADEIRA FILHO, Wilson (org.). Desenvolvimento insustentável: conflitos socioambientais e capitalismo no Brasil contemporâneo. Rio de Janeiro: Autografia, 2020. p. 99-116.
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Medida Provisória Nº 908, de 28 de novembro de 2019. Diário Oficial da União, Brasília, DF, n. 231, seção 1, p. 26, 2019. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/mpa/legislacao/legislacao-geral-da-pesca/medida-provisoria-pr-no-908-de-28-de-novembro-de-2019.pdf/view. Acesso em: 27 mar. 2023.
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Instrução normativa nº 52, de 25 de outubro de 2019. Brasília: MAPA, 2019. Disponível em: https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=384181. Acesso em: 27 mar. 2024.
MOTA, Fábio. O que é de um não é de outro: conflitos e direitos na Ilha da Marambaia. In: ACSELRAD, Henri. Conflito social e meio ambiente no Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Relume-Dumará/FASE, 2004. p. 93-125.
MUNIZ, Alexandre Carrinho. Tribunal do Júri: a participação do povo no Poder Judiciário. » Revista Justiça do Direito, Passo Fundo, v. 30, n. 2, p. 312-329, 2016. Disponível em: https://seer.upf.br/index.php/rjd/article/view/6047. Acesso em: 27 mar. 2024.
PEIRANO, Mariza. Rituais como estratégia analítica e abordagem etnográfica. In: PEIRANO, Mariza. O dito e o feito: ensaios de antropologia dos rituais. Rio de Janeiro: Relume-Dumará/Núcleo de Antropologia Política/UFRJ, 2002. p. 7-11.
PÉREZ, Mercedes Solá; GÓMEZ, Jorge Ramón Montenegro. Políticas de desenvolvimento da pesca e aquicultura: conflitos e resistências nos territórios dos pescadores e pescadoras artesanais da vila do Superagüi, Paraná, Brasil. Sociedade & Natureza, Uberlândia, v. 26, n. 1, p. 35-47, 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sn/a/LBbyh6CGknRYdxkPMXPzYWr/abstract/?lang=pt. Acesso em: 27 mar. 2024.
REDE MANGUEMAR. Tribunal Popular da Pesca. YouTube Rede MangueMar, 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=8nNj4wgPsx0&ab_channel=RedeMangueMar. Acesso em: 22 abr. 2022.
ROMÃO, Wagner de Melo; MARTELLI, Carla Giani. Estudos sobre as instituições participativas: O debate sobre sua efetividade. Revista Pensamento & Realidade, Rio de Janeiro, v. XVI, n. 28-1, p. 124-143, 2013. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/124649/ISSN2237-4418-2013-28-01-124-143.pdf?sequence=1. Acesso em: 8 jun. 2023.
SCHREIBER, Milena Arias; CHUENPAGDEE, Ratana; JENTOFT, Svein. Blue justice and the co-production of hermeneutical resources for small-scale fisheries. Marine Policy, v. 137, p. 1-9, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.marpol.2022.104959. Acesso em: 25 fev. 2024.
SCHWALBE, Michael; SHAY, Heather. Dramaturgy and dominance. In: MCLEOD, Jane D.; LAWLER, Edward; SCHWALBE, Michael (ed.). Handbook of the Social Psychology of Inequality. Handbooks of Sociology and Social Research. Dordrecht: Springer, 2014. p. 155-180.
SOARES, Marcelo Oliveira et al. The Most extensive oil spill registered in tropical oceans (Brazil): the balance sheet of a disaster. Environmental Science and Pollution Research, v. 29, n. 13, p. 19.869-19.877, 2022. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007/s11356-022-18710-4. Acesso em: 27 mar. 2024.
TRIBUNA DO NORTE. Colônias de pescadores do estado monitoram manchas de óleo no litoral. Tribuna do Norte, 23 out. 2019. Disponível em: https://tribunadonorte.com.br/natal/colonias-de-pescadores-do-estado-monitoram-manchas-de-oleo-no-litoral/. Acesso em: 18 jan. 2020.
TURNER, Victor. Liminal ao liminoide: Em brincadeira, fluxo e ritual. Um ensaio de simbologia comparada. Mediações - Revista de Ciências Sociais, Londrina, v. 2, p. 214-257, 2012. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/mediacoes/article/view/14343. Acesso em: 25 fev. 2024.
##submission.downloads##
Publicado
Cómo citar
Número
Sección
Licencia
Derechos de autor 2024 Winifred Knox, José Gomes Ferreira , Delma Pessanha Neves, Louyse Rodrigues da Silva
Esta obra está bajo una licencia internacional Creative Commons Atribución 4.0.
O conteúdo da revista Antropolítica, em sua totalidade, está licenciado sob uma Licença Creative Commons de atribuição CC-BY (http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.pt).
De acordo com a licença os seguintes direitos são concedidos:
- Compartilhar – copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato;
- Adaptar – remixar, transformar, e criar a partir do material para qualquer fim, mesmo que comercial;
- O licenciante não pode revogar estes direitos desde que você respeite os termos da licença.
De acordo com os termos seguintes:
- Atribuição – Você deve informar o crédito adequado, fornecer um link para a licença e indicar se alterações foram feitas. Você deve fazê-lo em qualquer maneira razoável, mas de modo algo que sugira que o licenciante o apoia ou aprova seu uso;
- Sem restrições adicionais — Você não pode aplicar termos jurídicos ou medidas de caráter tecnológico que restrinjam legalmente outros de fazerem algo que a licença permita.