Excessos e exatidões: ressonâncias entre Roberto Bolaño e Primo Levi a partir de “A parte dos crimes”, de 2666
DOI:
https://doi.org/10.22409/cadletrasuff.v32i63.51102Resumo
Este artigo coteja obras de Primo Levi e Roberto Bolaño a partir de leituras sonoras de seus escritos. Entende-se por leituras sonoras uma atenção ampliada à musicalidade e a outros aspectos auditivos expressos no conteúdo e na forma literária dessas obras. Nessa perspectiva, busca-se apontar sintonias e contrastes entre os expedientes criativos dos autores em questão. Algo que os vincula de antemão é o fato de suas escritas serem atravessadas por experiências em regimes totalitários: Levi é sobrevivente da Shoá, enquanto Bolaño lidou com o autoritarismo das ditaduras latino-americanas. O presente trabalho não procura confrontar estratégias de testemunho e ficção — procedimentos de escrita que emergem dessas vivências —, mas assume que, nos escritores analisados, tais registros de certa forma se imiscuem, formando um tecido sonoro-textual de efeito estético singular que permite diversas análises. Para realizá-las, o pesquisador procura estabelecer e enunciar certas poéticas de escuta, particularmente aquelas de maior acento político, priorizando, aqui, o aspecto duracional, rítmico, e percorrendo questões como tempo, memória, excesso, imprecisão, morte e estética. Uma leitura de “A parte dos crimes”, 2666, de Bolaño é realizada em conjunto com trechos de É isto um homem? e A trégua, de Levi, com a interlocução de Antônio Xerxenesky e Mario Barenghi. A conexão entre as obras é dinamizada pelo conceito físico-sonoro de ressonância.
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