Antíteses ao fascismo desde o aspecto estético recolhido nas teses sobre o conceito de história (1940) de W. Benjamin

Autores

  • Rodrigo Rocha Oliveira Universidade Federal de Ouro Preto

Resumo

O presente artigo busca recapitular traços gerais da teoria sobre o conceito de história encontra no espólio de “Teses” que Walter Benjamin escreve na década de 40 do século passado. Para tanto, escolhemos dentro do corpus autoral do pensador alguns conceitos intensivos que podem nos ajudar na compreensão ampliada de seu alcance especulativo acerca da problemática. O caracteriza nosso recorte é justamente reaver as teses Sobre o conceito de história por um prisma fundamentalmente estético, pautado pela política da escrita de que o Benjamin utiliza. Acreditamos que a própria atividade literária do autor, acima de tudo, na apresentação do texto, já nos indica isso que chamamos então de antíteses ao ideário fascista e suas extensões autoritárias.

 

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Biografia do Autor

  • Rodrigo Rocha Oliveira, Universidade Federal de Ouro Preto
    Graduação em Filosofia pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2018). Mestrando em Filosofia pela Universidade Federal de Ouro Preto (2019).

Referências

Algum escritor brasileiro deveria inventar um conto com a história imaginária da estadia do ilustre exilado antifascista no Brasil dos anos 1930: sua chegada a Santos em 1934, onde teria sido recebido por alguns colegas da USP de sensibilidade progressista; suas primeiras impressões sobre o país e sobre São Paulo, a Universidade [...] sua prisão pelo Dops em 1935, denunciado como agente do comunismo internacional; seu interrogatório policial, na presença de um representante da Embaixada Alemã; seu encarceramento em um navio-prisão, onde encontra e se torna amigo de Graciliano Ramos; as notas que toma num caderno, tendo em vista um ensaio comparando Graciliano com Brecht [...]. (LOWY, 2005, p.9)

Para estes críticos – tenho sobretudo em mente Walter Benjamin e Bertold Brecht – a arte é, antes de mais, uma prática social e não um objeto passível de ser dissecado academicamente. Podemos ver a literatura como um texto, mas podemos também vê-la como uma atividade social, uma forma de produção social e econômica que existe a par de outras formas semelhantes e se interrelaciona com elas (EAGLETON, 1978, p.78).

O “comprometimento” é mais do que simplesmente uma questão de apresentar opiniões políticas corretas na arte que se faz; ele revela-se na medida em que o artista reconstrói as formas artísticas que tem à sua disposição, transformando autores, leitores e espectadores em colaboradores. (EAGLETON, 1978, p. 80).

O olhar saturnino do alegorista tende à dissipação e à desintegração ínsitas à própria significação (a ordem da significação é a da repetição infinita), pois, seduzido pela promessa de um saber infinito, livre e transcendente, pela promessa da lúmen natural e do saber, move-se no reino das significações, perdendo-se dialeticamente de símile em símile, em direção ao abismo do mal e do saber, isto é, em direção ao reino de Satã, onde apenas reina a noite eterna da tristeza e da melancolia, iluminada pelo clarão subterrâneo que irrompe das profundezas da terra. Trata-se da ilusão de um saber que descobre nele próprio a sua aniquilação. (CANTINHO, 2015, p.77)

[...] Todo aquele que, até hoje, obteve a vitória, marcha junto no cortejo de triunfo que conduz os dominantes de hoje [a marcharem] por cima dos que, hoje jazem por terra. A presa, como sempre de costume, é conduzida no cortejo triunfante. Chamam-na bens culturais. Eles terão de contar, no materialismo histórico, com um observador distanciado, pois o que ele, com seu olhar, abarca como bens culturais atesta, sem exceção, uma proveniência que ele não pode considerar sem horror. Sua existência não se deve ao esforço dos grandes gênios, seus criadores, mas também à corveia dos seus contemporâneos. Nunca há um documento de cultura que não seja, ao mesmo tempo, um documento de barbárie. E, assim como ele não está livre da barbárie, também não o está o processo de sua transmissão, transmissão na qual ele passou de um vencedor a outro. Por isso, o materialista histórico, na medida do possível, se afasta dessa transmissão. Ele considera como sua tarefa escovar a história a contrapelo. (BENJAMIN, 2005, p.70).

A crítica busca o teor de verdade de uma obra de arte; o comentário, o seu teor factual. A relação entre ambos determina aquela lei fundamental da escrita literária segundo a qual, quanto mais significativo for o teor de verdade de uma obra, de maneira tanto mais inaparente e íntima estará ele ligado ao seu teor factual. Se, em consequência disso, as obras que se revelam duradouras são justamente aquelas cuja verdade está profundamente incrustada em seu teor factual, então os dados do real na obra apresentam-se, no transcurso dessa duração, tanto mais nítidos aos olhos do observador quanto mais se vão extinguindo no mundo. (BENJAMIN, 2009, p. 12)

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Publicado

2020-05-28

Edição

Seção

Artigos Livres

Como Citar

Antíteses ao fascismo desde o aspecto estético recolhido nas teses sobre o conceito de história (1940) de W. Benjamin. (2020). Revista Cantareira, 33. https://periodicos.uff.br/cantareira/article/view/40743