Nação imaginária e nação imaginada: sobre alguns paradoxos da questão nacional em França
DOI:
https://doi.org/10.22409/conflu15i2.p313Resumo
Onde está a « questão nacional » em França? Não há resposta única a esta questão, que encobre na verdade um emaranhado de problemáticas. A Nação, que a Revolução Francesa fez entrar na história política, é um pouco de tudo: um principio de legitimação dos governantes (pretendendo representar, quem sabe encarnar, a nação); uma definição do substrato da comunidade política (culminando sob a forma do Estado-Nação); um modo de identificação dos indivíduos (que se definem, ou não, e mais ou menos parcialmente, pela referência à esta pertença comum); um duplo processo social de homogeneização e de diferenciação que, segundo a lição de Marcel Mauss, « faz com que o comportamento de um francês pareça menos com o comportamento de um inglês que o comportamento de um algonquino àquele de um índio da Califórnia »; um valor mobilizado nas representações, nas ideologias e no combate político; etc. Em suma, convém distinguir a « nação imaginária », que condensa as representações politicamente dominantes da nação, e a « nação » imaginada, no sentido que Benedict Anderson da a sua « comunidade imaginada »: um todo social unido pelo sentimento de pertença comum entre os indivíduos que não podem se conhecer pessoalmente. Em França, talvez mais que alhures, as relações entre a nação imaginária (vinda do movimento revolucionário) e a nação imaginada (construída na longa duração) são historicamente ao mesmo tempo estreitas, sólidas e contraditórias. E estes laços complexos, senão paradoxais, estão novamente postos à prova pela diversidade sócio-cultural acompanhando a imigração contemporânea.
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