Interview with Raquel Gutierrez
interdependência, feminismos, lutas pelo comum e disputas por horizontes críticos no pós-pandemia
DOI:
https://doi.org/10.22409/2hb1xw84Abstract
Uma das vozes mais destacadas nas lutas feministas e anti-patriarcais em defesa da vida no nosso continente, Raquel Gutiérrez Aguilar é o que se pode definir como uma intelectual orgânica insurgente: Ativista e pensadora aguçada, com uma longa carreira militante por onde passou, sempre se dedicou a fornecer elementos de compreensão analítica sobre as lutas feministas e por autonomia para defender a reprodução da vida, levadas a cabo em múltiplas geografias, contra os projetos extrativistas, capitalistas, patriarcais e neocoloniais.
Raquel foi cofundadora e integrante do Exército Guerrilheiro Tupac Katari (EGTK), que atuou na Bolívia entre o final dos anos 1980 e 1992. Por esta participação chegou a ser presa por cinco anos no Centro de Orientación Femenina de Obrajes em La Paz, acusada de terrorismo. Em 2000, participou ativamente do levantamento comunitário-popular em Cochabamba, que ficou conhecido como a “Guerra da água”.
Retornando ao México em 2001, se dedicou a diversas iniciativas que integravam o ativismo social e político com a reflexão teórica militante: Centro de Estudos Andinos y Mesoamericanos (CEAM), Casa de Ondas, Experimento Editorial Pez en el Árbol, entre outros. Raquel Gutiérrez também se dedicou a escrever sua tese de doutorado, onde reflete sobre o processo social de levantamento e mobilização indígena, camponesa e obreiro na Bolívia, que depois se tornará livro: “Los ritmos Del Pachakuti: Movilización y levantamiento indígena-popular en Bolivia (2000-2005)”, de 2008. Com intensa atividade intelectual, individual e coletivamente, Raquel Gutiérrez foi consolidando um campo teórico-prático de estudos para pensar e fortalecer os esforços de produção, defesa e reprodução do comum em distintas experiências sociais na América Latina/Abya Yala.
Tornando-se professora na Benemérita Universidad Autónoma de Puebla (BUAP), Raquel Gutiérrez fundou, junto com as Professoras Mina Navarro e Lucía Linsalata o Seminário Permanente “Entramados comunitários y formas de lo político”, com especial diálogo entre as lutas feministas, a ecologia política, as disputas territoriais e as reivindicações plurais por autonomia, fornecendo não só chaves de compreensão para a dominação e expropriação capitalista-patriarcal-colonial-racista, mas também apontando horizontes e desafios das resistências comunitárias e populares. Outras produções desta época estão reunidas no seu livro “Horizontes comunitario-populares: Producción de lo común más allá de las políticas estado-céntricas”, publicado em 2017[1].
Tivemos a satisfação de conviver mais diretamente com o Seminário coordenado por Raquel, Mina e Lucía na cidade de Puebla. Entre setembro de 2018 e fevereiro de 2019, Hugo Belarmino de Morais realizou parte de sua pesquisa de doutorado na Benemérita Universidad Autónoma de Puebla (BUAP), através do Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior da CAPES (PDSE-CAPES), sob a tutoria de Raquel. E entre outubro de 2018 e fevereiro de 2019 a Professora Ana Maria Motta Ribeiro também realizou intercâmbio institucional na cidade de Puebla como Professora Visitante da Pós-graduação em Sociologia da BUAP. Deste intercâmbio e trocas acadêmicas entre Brasil e México foi elaborado um Dossiê Temático intitulado “Por una sociología desde abajo”, publicado na Revista Confluências no Volume 21, nº 2, em 2019[2].
Embora mantenha um contato direto e contínuo com o Seminário “Entramados comunitários y formas de lo político”, Raquel não está mais vinculada formalmente à BUAP e atualmente vive na Cidade do México, dedicando-se a uma nova iniciativa, o semanário digital ojala.mx[3]. Ela explica alguns dos motivos dessas mudanças recentes na entrevista, que foi realizada pelos próprios Hugo Belarmino de Morais e Ana Maria Motta Ribeiro em formato virtual, em 25 de fevereiro de 2025. A entrevista foi traduzida por Hugo e por Diana Patricia González Ferreira[4], investigadora colombiana que está concluindo seu doutorado também na BUAP, a quem agradecemos pelo cuidado e atenção na tradução e revisão.
Do período de intercâmbios - acadêmicos, políticos e afetivos - já se passaram sete anos (2018 a 2025), com mudanças de governos e uma pandemia mundial. Muitas mudanças mas também muitas permanências. O que pensar destes tempos difíceis? Quais aportes teórico-políticos podemos utilizar para qualificar nossa atuação militante neste mundo de transformações e contradições? Com poucas de suas produções traduzidas para o português[5], seu pensamento e atuação continuam ainda pouco conhecidos entre o público brasileiro.
Esta nova entrevista, é, pois, ao mesmo tempo um reencontro e uma reverência pela amizade construída entre Ana e Raquel, ambas orientadoras de Hugo, num momento de celebração. É também um convite às leitoras e leitores para conhecerem algumas das ideias dessa orientadora, professora, amiga e exemplo de intelectualidade orgânica. Esperamos que gostem e desfrutem.
[1] Disponível em: https://traficantes.net/sites/default/files/pdfs/Horizontes%20comunitario-populares_Traficantes%20de%20Sue%c3%b1os.pdf
[2] Disponível em: https://periodicos.uff.br/confluencias/issue/view/1852
[3] Disponível em: https://www.ojala.mx/es/acerca-de
[4] Diana Patricia González Ferreira é formada em Psicologia e Pedagogia pela Universidade Pedagógica Nacional da Colômbia UPN; Mestrado em Sociologia pelo Instituto de Ciências Sociais e Humanas ICSyH da Universidade Benemérita Autônoma de Puebla BUAP; atualmente aspira ao doutorado em Sociologia no ICSyH-BUAP.
[5] Exemplo de tradução de seu texto sobre política no feminino, publicado na Revista Ideação: Cf. AGUILLAR, R. G. POLÍTICAS NO FEMININO: TRANSFORMAÇÕES E SUBVERSÕES NÃO CENTRADAS NO ESTADO. Revista Ideação, Feira de Santana, v. 39, pág. 223, 2019. Disponível em: http://periodicos.uefs.br/index.php/revistaideacao/article/view/4576; e outra entrevista, publicada na Revista Trabalho Necessário: Cf. RIBEIRO, A. M. M. RAQUEL GUTIÉRREZ: A PESQUISADORA DO “COMUM” E DO FEMINIMO EM LUTA NA AMÉRICA LATINA. Revista Trabalho Necessário, [s. l.], v. 36, pág. 235–247, 2020. Disponível em: https://periodicos.uff.br/trabalhonecessario/article/view/42794
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