Território, Estratégias De Territorialidade E Nacionalismo: O Diálogo Entre Dois Textos Que Podem Ser Complementares

Autores

  • Cristina Portella

DOI:

https://doi.org/10.22409/enfil.v7i10.29467

Palavras-chave:

Educação, Filosofia, História, Ciências Sociais, Educação Popular

Resumo

Entre o texto Território e Identidade. A Construção da Angola Colonial (c.1873 c.1926), de autoria da historiadora Isabel Castro Henriques, e o trabalho do geógrafo Jan Penrose em Nações, estados e pátrias: território e territorialidade no pensamento nacionalista é possível estabelecer um diálogo profícuo para o estudo da colonização europeia em África, da construção de territórios e implementação de estratégias de territorialidade e do pensamento nacionalista.

No estudo de Isabel Castro Henriques, é explicado o papel central da destruição dos territórios africanos como pré-requisito para a construção do edifício colonial; o artigo de Jan Penrose pode funcionar como uma tese complementar no sentido em que afirma a importância do território para o nacionalismo. “(...) o nacionalismo é um fenômeno profundamente territorial e inimaginável sem a aplicação da territorialidade humana ao espaço” (PENROSE, 2002, p. 294). No caso africano, a reivindicação nacional baseou-se – numa aparente contradição – em territórios construídos pelos colonizadores. Portanto, ao contrário dos europeus, que destruíram os territórios africanos para poderem erguer e afirmar o território colonial, os africanos aproveitaram-se do território colonial para construir a ideologia nacionalista – firmemente alicerçada, como defende o geógrafo, na territorialidade –, expulsar os europeus e conquistar a independência destes mesmos territórios. No “diálogo” entre os dois textos, poderíamos ainda apontar uma das possíveis explicações, encontrada no texto da historiadora portuguesa, para a viabilidade deste ideal nacionalista fixar-se num espaço territorial construído pelo colonizador: “Sem os seus territórios, os africanos procuram preservar os valores fundamentais da sua identidade, mesmo se ‘prisioneiros’ de etnias ‘fabricadas’, de espaços controlados, de hierarquias discriminatórias, de formas culturais e materiais impostas pela força” (Henriques, 2004, p. 47). Desta forma, a “territorialidade”, compreendida como uma “estratégia territorial” (Penrose, 2002, p. 293), não teria sido uma exclusividade do colonizador, mas fora utilizada, numa espécie de contrapoder latente, pelos povos dominados.

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Biografia do Autor

Cristina Portella

Mestre em História com especialidade em História de África pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, pesquisadora do Centro de Estudos sobre África, Ásia e América Latina (CEsA).

Publicado

2020-10-01