Distopia no Antropoceno, ou re(a)presentando o interregno
DOI:
https://doi.org/10.22409/gragoata.v26i55.47745Resumen
Contrapondo algumas características da modernidade sólida às da modernidade líquida (BAUMAN, 2001), examino um corpo ficcional em língua inglesa, visando a discutir diferentes cenários distópicos e suas representações da expansão dos mecanismos do capitalismo e sua penetração no próprio tecido social. (JAMESON, 1984) Tomando emprestado o conceito do interregno de Bauman (2012) como chave de leitura, argumento que, diante do quadro complexo de fragmentação e erosão das instituições “sólidas”, e dissociação entre o poder político, crescentemente manejado por forças ecológica e socialmente irresponsáveis e questões prementes da humanidade e do meio-ambiente (BROWN, 2015), torna-se progressivamente difícil para a distopia “líquida” oferecer uma contranarrativa de resistência, restando aos autores re(a)presentar, repetidamente, o interregno – i.e., o momento de ruptura com o passado, sem que tenha surgido, ainda, o novo. No âmbito da distopia, são poucos os autores que se arriscam a esboçar uma sociedade pós-capitalista. Sendo assim, inspiro-me na visão autonomista do comum (Negri, 2005a; 2005b), e nos “quatro futuros” imaginados por Frase (2016), para propor uma discussão da obra Walkaway, do autor canadense Cory Doctorow (2017), onde a contranarrativa ou resistência à ordem hegemônica parte de uma nova forma de organização do trabalho e da comunicação, baseada na partilha e na produção de uma riqueza comum.
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