Considerações semântico-pragmáticas sobre o item ‘já’
DOI:
https://doi.org/10.22409/gragoata.v29i64.60551.ptPalabras clave:
Semântica, Pragmática, Já, Tempo-aspectual, ImplicaturasResumen
Neste artigo discutimos características semânticas e aspectos pragmáticos do item lexical ‘já’ e, assim, procuramos entender o(s) seu(s) significado(s). Nosso objetivo é explorar alguns dos aspectos linguísticos de ‘já’, pois esse item é pouco discutido nas gramáticas tradicionais. As bases teóricas utilizadas são Gritti (2013), Lopes (2003) e Morais (2004), que abordam aspectos da semântica do item, e algumas considerações gerais de gramáticas descritivas (PERINI, 2008; NEVES, 2011). A partir da revisão bibliográfica, verificamos que ‘já’ pode ter valor temporal (localizando eventos na linha do tempo), aspectual (modificando o aspecto do evento) e conjuntivo (ligando orações) e concluímos que o item apresenta aspectos pragmáticos relevantes que o caracterizam e que não foram analisados na literatura consultada, tais como leituras de contraexpectativa e de promessa. A presença dessas leituras e a natureza das inferências que as geram foram investigadas neste artigo em sentenças no modo indicativo (presente, passado e futuro) e imperativo, estando as leituras de contraexpectativa e de promessa ausentes do último. Após testes de acarretamento e pressuposição e de cancelamento de implicatura, as leituras de contraexpectativa e de promessa revelaram-se implicaturas conversacionais, sendo, assim, inferências de natureza pragmática.
Descargas
Citas
ANJOS, Lilian Souza dos. Por uma reflexão sobre a "promessa" nos estudos performativos. Línguas e Instrumentos Linguísticos, v. 23, n. 46, p. 51-73, 2020.
AUSTIN, John Langshaw. How to do Things with Words. Oxford: Clarendon Press. 1962.
CONISON, Jay. The Pragmatics of Promise. Canadian Journal of Law & Jurisprudence, v. 10, n. 2, p. 273-322, 1997.
CANÇADO, Márcia. Manual de Semântica: noções básicas e exercícios. São Paulo: Editora Contexto. 2012.
CARLSON, Greg. A unified analysis of the English bare plural. Linguistics and Philosophy, v. 1, n. 3, p. 413-457, 1977.
CASTILHO, Ataliba Teixeira de; ILARI, Rodolfo. Advérbios predicadores. In: MOURA NEVES, Maria Helena de; ILARI, Rodolfo. Gramática do português culto falado no Brasil: classes de palavras e processos de construção, vol. II. Campinas: Unicamp, 2008. p. 413-456.
CASTIM, Fernando. John Austin e os Atos de Fala. Revista Ágora Filosófica, v. 17, n. 1, p. 84-95, 2017.
CAVALCANTE DA CUNHA, Antônio Sérgio. Algumas propostas de análise da coordenação e da subordinação a partir do comportamento das conjunções da área da causa e da explicação. Revista SOLETRAS, n. 16, p. 9-22, 2008.
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008.
GOMES, Ana Quadros; MENDES, Luciana Sanchez. Para conhecer Semântica. São Paulo: Editora Contexto, 2018.
GRICE, Herbert Paul. Logic and conversation. In: COLE, Peter; MORGAN, Jerry (ed.). Syntax and Semantics 3: Speech Acts. New York: Academic Press, 1975. p. 41–58.
GRITTI, Letícia Lemos. Ainda há o que fazer, mas já não mais aqui! Uma análise semântico-pragmática de ainda e já não mais. 2013. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013, 223 p.
ILARI, Rodolfo. A expressão do tempo em português. São Paulo: Contexto, 1997.
ILARI, Rodolfo. Introdução à Semântica: brincando com a gramática. São Paulo: Contexto. 2023.
KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Argumentação e Linguagem. São Paulo: Contexto, 1984.
KRIFKA, Manfred. Alternatives for aspectual particles: Semantics of still and already. In: KRIFKA, Manfred. Proceedings of the Twenty-Sixth Annual Meeting of the Berkeley Linguistics Society: General Session and Parasession on Aspect. Berkeley: Berkeley Linguistics Society, 2000. p. 401-412.
LEWIS, Diana M. Grammaticalizing adverbs of English: the case of ‘still’. Crossing Linguistic Boundaries: Systemic, Synchronic and Diachronic Variation in English, 2019.
LIMA, Carlos Henrique da Rocha. Gramática normativa da língua portuguesa. Rio de Janeiro: José Olympio, 2011.
LÖBNER, Sebastian. Why German schon and noch are still duals: A reply to Van der Auwera. Linguistics and Philosophy, v. 22, n. 1, p. 45-107, 1999.
LÖBNER, Sebastian. German schon-erst-noch: an Integrated Analysis. Linguistics and Philosophy, v. 12, n. 2, p. 167-212, 1989.
LOPES, Ana Cristina Macário. Elementos para uma análise semântica das construções com já. Razões e Emoção: Miscelânea de Estudos em Homenagem a Maria Helena Mira Mateus, Lisboa, IN-CM, v. I, p. 411-428, 2003.
LYONS, John. Introdução à linguística teórica. São Paulo: Nacional, 1979.
MAIA, João Domingues. Gramática: teoria e exercícios. São Paulo: Ática. 1995.
MICHAELIS, Laura A. Aspect and the semantics-pragmatics interface: The case of already. Língua, v. 87, n. 4, p. 321-339, 1992.
MITTWOCH, Anita. The relationship between schon/already and noch/still: a reply to Löbner. Natural Language Semantics, v. 2, n. 1, p. 71–82, 1993.
MORAIS, Maria da Felicidade Araújo. Elementos para uma descrição semântico-pragmática do marcador discursivo “já agora”. In: SILVA, Augusto Soares da; TORRES, Amadeu; GONÇALVES, Miguel (org.). Linguagem, Cultura e Cognição: Estudos de Linguística Cognitiva. Coimbra: Almedina, 2004. p. 477-495.
MOURA, Heronides Maurílio de Melo. Significação e contexto: uma introdução a questões de Semântica e de Pragmática. Florianópolis: Insular, 2006.
NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do português. São Paulo: Editora Unesp, 2011.
OLIVEIRA Jr., M. NURC Digital: um protocolo para a digitalização, anotação, arquivamento e disseminação do material do Projeto da Norma Urbana Linguística Culta (NURC). CHIMERA: Revista De Corpus De Lenguas Romances Y Estudios Lingüísticos. v. 3, p. 149-174, 2016.
PERINI, Mário A. A Gramática Descritiva do Português. 4. ed. São Paulo: Editora Ática, 2008.
PIRES DE OLIVEIRA, Roberta; BASSO, Renato Miguel; SOUZA, Luisandro Mendes de; CRUZ, Ronald Taveira da; GRITTI, Letícia Lemos. Semântica. Florianópolis: LLV/CCE/UFSC, v.1, 2012.
PIRES DE OLIVEIRA, Roberta; BASSO, Renato Miguel. Arquitetura da conversação: teoria das implicaturas. São Paulo: Parábola Editorial, 2014.
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado das Letras, 1996.
SEARLE, John R. Expression and meaning. Cambridge: Cambridge University Press, 1979.
SEARLE, John R. A classification of illocutionary acts. Language in Society, v. 5, n. 1, p. 1-23, 1976.
SEARLE, John R. Consciência e linguagem. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010.
SOUZA, Débora Granda de. O comportamento dos advérbios aspectuais ‘ainda’ e ‘já’. Revista Versalete. Curitiba, v. 8, n. 15, p. 73-96, jul.-dez. 2020.
VAN DER AUWERA, Johan. “Already” and “Still”: Beyond Duality. Linguistics and Philosophy, v. 16, p. 613-653, 1993.
VOGT, Carlos. A. Indicações para uma Análise Semântica Argumentativa das Conjunções ‘porque’, ‘pois’ e ‘já que’. Cadernos de Estudos Linguísticos, v. 1, p. 35-50, 2012 [1978].
VENDLER, Zeno. Linguistics in Philosophy. New York: Cornell University Press, 1967.
##submission.downloads##
Publicado
Cómo citar
Número
Sección
Licencia
Derechos de autor 2024 Gragoatá
Esta obra está bajo una licencia internacional Creative Commons Atribución 4.0.
AUTORIZAÇÃO
Autores que publicam em Gragoatá concordam com os seguintes termos:
Os autores mantêm os direitos e cedem à revista o direito à primeira publicação, simultaneamente submetido a uma licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0), que permite o compartilhamento por terceiros com a devida menção ao autor e à primeira publicação pela Gragoatá.
Os autores podem entrar em acordos contratuais adicionais e separados para a distribuição não exclusiva da versão publicada da obra (por exemplo, postá-la em um repositório institucional ou publicá-la em um livro), com o reconhecimento de sua publicação inicial na Gragoatá.
A Gragoatá utiliza uma Licença Creative Commons - Atribuição CC BY 4.0 Internacional.