CORONAVIRUS, VERDADE E CIÊNCIA: Obstáculos e oportunidades para uma nova (velha) espistemologia

Résumé

Um momento como o de uma pandemia é de crise, mas também pode ser de reflexão. A pandemia do SARS-CoV-2, também conhecido como “Novo Coronavírus”, convida, entre outras, à reflexão sobre o papel da ciência na sociedade. Usando uma respecificação sociológica do conceito de “obstáculos epistemológicos” de Gaston Bachelard, este artigo se propõe a refletir sobre o relativo subdesenvolvimento e pouco crédito que a ciência recebe no Brasil. Dividindo esses obstáculos em externos, ou seja, fora do funcionamento da comunidade científica, e internos, ou seja, dentro do funcionamento da comunidade científica, procurarei mostrar como fenômenos sociais podem impedir ou diminuir a evolução da ciência em termos de acúmulo de conhecimento. Como obstáculos epistemológicos externos, serão abordados a escassez de financiamento de pesquisa, a partir de uma análise comparativa de dados abertos de universidades no Brasil e em países mais ricos; e a percepção ambígua que a esfera pública parece demonstrar sobre a ciência e seus resultados, ora valorizando-os, ora hostilizando-os. Como obstáculo epistemológico interno, serão abordadas teorias epistemológicas pós-modernas, especialmente as chamadas epistemologias do Sul, a partir de uma a reconstrução racional de pressupostos e argumentos, centrada em um autor central dessas teorias, Boaventura de Sousa Santos. Considerações finais sobre a importância da ciência e o potencial limitador desses obstáculos epistemológicos encerram o artigo.