Guerra e Memória Social: a deficiência como testemunho

Autores

  • Bruno Sena Martins Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra

Palavras-chave:

Guerra, Deficiência, Guerra Colonial, Memória Social

Resumo

Durante longas décadas, a Guerra Colonial portuguesa (1961-1974) fracassou em encontrar um efetivo espaço de rememoração naquilo que foi a reconstrução democrática e pós-imperial da sociedade portuguesa. Sob vários pontos de vista, os combatentes que adquiriram deficiência na guerra constituíram a expressão viva de um trauma coletivo que a ordem social democrática quis esquecer. Numa perspetiva teórica que procura debater os desencontros da memória pessoal e da memória coletiva, defendemos que o silenciamento e a marginalização dos Deficientes das Forças Armadas (DFA) permite consagrá-los como testemunhas privilegiadas para um diálogo com as sequelas e contradições da guerra. Assim, as histórias de vida dos DFA (35 entrevistados) são convocadas para o presente texto, seja para uma valorização da guerra colonial enquanto um momento histórico que deixou duradouras marcas na sociedade portuguesa, seja para o reconhecimento da deficiência enquanto marca biográfica que confronta a desmemória e a violência do esquecimento.

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Publicado

2013-04-30

Como Citar

MARTINS, B. S. Guerra e Memória Social: a deficiência como testemunho. Fractal: Revista de Psicologia, v. 25, n. 1, p. 3-22, 30 abr. 2013.

Edição

Seção

Artigos