Processos subjetivos da depressão: construindo caminhos alternativos em uma aproximação cultural-histórica
DOI:
https://doi.org/10.22409/1984-0292/v29i3/1411Palavras-chave:
depressão, subjetividade, saúde mentalResumo
Este artigo tem o objetivo de explicar processos subjetivos associados à depressão, apoiando-se em um estudo de caso. O trabalho fundamenta-se no método construtivo-interpretativo, que tem como principal referência a Teoria da Subjetividade em uma perspectiva cultural-histórica. O olhar para a subjetividade, nesse viés, distancia-se da hegemônica reificação patológica da depressão, que tem limitado as práticas de saúde mental ao oferecer instrumentos teóricos que favorecem a percepção sobre como esse fenômeno expressa-se concretamente em trajetórias únicas de vida. Nesse sentido, com base no referencial teórico adotado, foi possível gerar inteligibilidade sobre a singular complexidade do processo depressivo a partir do caso estudado. Haja vista essa proposta, colocou-se em discussão que considerar a pessoa deprimida em sua integralidade, incluindo suas concepções, vivências e formas de sociabilidade, é fundamental para fomentar reflexões e estratégias que não dissociem clínica, cultura e sociedade. Trata-se de situar o processo depressivo dentro de uma trama concreta de vida, não o contrário.
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