v. 8 n. 15 (2021): Ensaios de Geografia

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CAPA
Santa Teresa, Rio de Janeiro, Brasil, novembro de 2020.

Milton Santos afirmou, celebremente, que o espaço pode ser compreendido enquanto acumulação desigual de tempos, ou seja, uma complexa amálgama na qual o passado se faz sempre presente. Tal afirmação é especialmente verdadeira e constatável quando se tratando de áreas urbanas centrais: nelas, o ambiente construído serve como uma espécie de testemunho de épocas passadas através da densidade histórica de suas formas e traçados.

A bem da verdade, entretanto, os tempos não se encontram simplesmente acumulados desigualmente no espaço. Mais que isso, o que tem-se é um quadro de contínua e ininterrupta interação entre diferentes tempos que se encontram no espaço, situ-ações geográficas essencialmente dinâmicas em constante e transmutação. Nelas, as marcas de eras anteriores não são cristalizadas mas, antes, continuamente (re)enquadradas e (re)adaptadas. Assim, as funções das formas espaciais se alteram, bem como as representações sociais a elas referentes.

A foto busca capturar tal dinamismo geo-histórico. Ela retrata, em primeiro plano, a parte de cima dos Arcos da Lapa, antigo aqueduto colonial datado do século XVIII readaptado para a circulação dos famosos bondinhos do bairro de Santa Teresa. Os trilhos se estendem, tal qual uma ponte que liga não apenas diferentes pontos do espaço, mas também o ontem e o hoje, em direção ao segundo plano da imagem, no qual destaca-se o EDISE, sede da Petrobras, datado da década de 70, bem como outros edifícios corporativos do Centro do Rio de Janeiro.

 

Fotografia analógica - Canon Sure Shot Z155, filme Kodak Pro Image 100.

Vicente Brêtas Gomes dos Santos
Bacharel em Geografia (UFF)
Contato: vicente.bretas@gmail.com

Publicado: 2021-12-21

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