Inflexões epistemológicas: a Etnopsiquiatria
DOI:
https://doi.org/10.22409/1984-0292/v31i_esp/29001Palavras-chave:
Etnopsiquiatria, cultura, psiquismoResumo
A Etnopsiquiatria, fundada por Geroges Devereux, surge enquanto possibilidade de refletir o encontro intercultural e seus desdobramentos quanto à compreensão do adoecimento psíquico e à coerência entre terapêuticas e etiologias deste adoecimento. A síntese teórica que levou à criação da disciplina emerge de inflexões baseadas principalmente nos estudos de Freud, Malinowski, Róheim e de contribuições posteriores de Lévi-Strauss e Bastide. Tobie Nathan é responsável pela criação do modelo de intervenção que coloca em prática a aplicação da teoria. Este artigo visa apresentar o histórico dos princípios precursores que levaram Devereux à síntese teórica e à criação da Etnopsiquiatria e expor as considerações da experiência adquirida na aplicação da disciplina pelo modelo proposto por Nathan e multiplicado por outros clínicos. Do postulado da universalidade do psiquismo que se constitui na particularidade da cultura, compreende-se uma relação intrínseca existente entre cultura e psiquismo, em que a cultura utiliza-se dos mesmos elementos, processos e mecanismos de defesa do psiquismo. Adotando o duplo discurso – Psicanálise e Etnologia – a disciplina define-se complementarista. A Etnopsiquiatria surge enquanto possibilidade diante da lacuna que a lógica da psiquiatria ocidental deixou para explicar o adoecimento psíquico e seu modelo de intervenção viabiliza o posicionamento de aprendiz no encontro intercultural.Downloads
Referências
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