Inflexões epistemológicas: a Etnopsiquiatria

Auteurs-es

DOI :

https://doi.org/10.22409/1984-0292/v31i_esp/29001

Mots-clés :

Etnopsiquiatria, cultura, psiquismo

Résumé

A Etnopsiquiatria, fundada por Geroges Devereux, surge enquanto possibilidade de refletir o encontro intercultural e seus desdobramentos quanto à compreensão do adoecimento psíquico e à coerência entre terapêuticas e etiologias deste adoecimento. A síntese teórica que levou à criação da disciplina emerge de inflexões baseadas principalmente nos estudos de Freud, Malinowski, Róheim e de contribuições posteriores de Lévi-Strauss e Bastide. Tobie Nathan é responsável pela criação do modelo de intervenção que coloca em prática a aplicação da teoria. Este artigo visa apresentar o histórico dos princípios precursores que levaram Devereux à síntese teórica e à criação da Etnopsiquiatria e expor as considerações da experiência adquirida na aplicação da disciplina pelo modelo proposto por Nathan e multiplicado por outros clínicos. Do postulado da universalidade do psiquismo que se constitui na particularidade da cultura, compreende-se uma relação intrínseca existente entre cultura e psiquismo, em que a cultura utiliza-se dos mesmos elementos, processos e mecanismos de defesa do psiquismo. Adotando o duplo discurso – Psicanálise e Etnologia – a disciplina define-se complementarista. A Etnopsiquiatria surge enquanto possibilidade diante da lacuna que a lógica da psiquiatria ocidental deixou para explicar o adoecimento psíquico e seu modelo de intervenção viabiliza o posicionamento de aprendiz no encontro intercultural.

Téléchargements

Les données sur le téléchargement ne sont pas encore disponible.

Bibliographies de l'auteur-e

Lucienne Martins Borges, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC

Professora da Universidade Federal de Santa Catarina, atua na Graduação e na Pós-Graduação em Psicologia, onde coordena o Núcleo de Estudos sobre Psicologia, Migrações e Culturas (NEMPsiC). Integrante da equipe de pesquisa ÉDIQ - Équipe de recherche en partenariat sur la diversité culturelle et l?immigration dans la région de Québec (Canadá). Doutora em Psicologia (Ph.D., Université du Québec à Trois-Rivières - Canadá), possui graduação em Psicologia pela Universidade Católica de Goiás (1991), mestrado em Estudos Literários - Université du Quebec, Canadá (1996) e mestrado em Psicologia - Université Laval, Canadá (2000). Professeur Associé na Université du Québec à Montréal (UQAM), Colaboradora do Service d'Aide Psychologique Spécialisée aux Immigrants et Réfugiés (Université Laval/CIUSSS-CN, Québec, Canadá). Líder do Grupo de Pesquisa "Psicologia, cultura e saúde mental". Atualmente faz parte do corpo docente da Residência Integrada Multiprofissional em Saúde do Hospital Universitário da UFSC, na área de concentração Atenção em Urgência e Emergência. Interessa-se principalmente pelos seguintes temas: Psicologia clínica intercultural, Etnopsiquiatria, migrações, refúgio e saúde mental, suicídio e homicídio conjugal.

Mariá Boeira Lodetti, Université Laval, Québec

Psicóloga. Doutoranda - Université Laval - Équipe de recherche en partenariat sur la diversité culturelle et l’immigration dans la région de Québec. Possui mestrado em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e é graduada em Psicologia (2015) pela mesma universidade. Pesquisadora do Núcleo de Estudos sobre Psicologia, Migrações e Culturas (NEMPsiC), no qual integra o Grupo de Pesquisa "Psicologia, Cultura e Saúde Mental", nas linhas de pesquisa "Violência e Trauma" e "Migrações, processos psicológicos e saúde mental".

Márcio Jibrin, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC

Psicólogo. Mestre em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Colaborador do Núcleo de Estudos sobre Psicologia, Migrações e Culturas (NEMPsiC), no qual integra o Grupo de Pesquisa "Psicologia, Cultura e Saúde Mental", nas linhas de pesquisa "Violência e Trauma" e "Migrações, processos psicológicos e saúde mental". Compõe a equipe de terapeutas da Clínica Intercultural, vinculada ao NEMPsiC. Membro do Grupo de Apoio aos Imigrantes e Refugiados em Florianópolis e região - GAIRF. Psicólogo voluntário na Pastoral do Migrante de Florianópolis e supervisor local de estágio na mesma instituição.

Jean-Bernard Pocreau, Université Laval, Québec

Possui graduação em psychologie pela Université de Rennes I(1968), especialização em Certification à la pratique de la psychothérapie pela C.P.P.Q Montréal(1986) e doutorado em Psicologia pela Université Laval(1977). Atualmente é professor titular da Université Laval, Professor colaborador da Universidade Federal de Santa Catarina e Coordenador responsável da Service d'Aide Psychologique aux Immigrants et Réfugiés. Tem experiência na área de Psicologia.

Références

BETTS, Jaime. Diferença cultural, sofrimentos da identidade e a clínica psicanalítica hoje. SIG Revista de Psicanálise, v. 2, n. 1, p. 85-97, 2013. Disponível em: http://sig.org.br/wp-content/uploads/2016/04/Num_2_EmPauta2.pdf. Acesso em: 22 jul. 2018.

BOAS, Franz. Antropologia Cultural. CASTRO, Celso (Org). Rio de Janeiro: J. Zahar, 2004.

CUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciências sociais. Bauru: EDUSC, 1999.

DEVEREUX, George. Reality and dream: the psychotherapy of a plains indian. New York: International Univ Press, 1951.

DEVEREUX, George. Ethnopsychanalyse complémentariste. Paris: Flammarion, 1985.

FERMI, Patrick. Géza Róheim ou la psychanalyse en voyage. L’Autre, v. 9, n. 1, p. 57-66, 2008. https://doi.org/10.3917/lautr.025.0057

FERRADJI, Taïeb. Culture et psychopathologie chez les jeunes migrants musulmans installés en France. In: MEKKI-BERRADA, Abdelwahed. (Ed.). L’Islam en anthropologie de la santé mentale: théorie, ethnographie et clinique d’un regard alternatif. Münster: Lit Verlag, 2010. p. 135-149.

FREUD, Sigmund. Totem e Tabu (1913). In: SALOMÃO, Jayme (Org.). Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1974. v. 13, p. 13-194. Edição Standard Brasileira.

GRANDSARD, Catherine. Enveloppe culturelle et attachement social. Santé Mentale, n. 135, p. 46-49, févr. 2009. Disponible sur: http://www.ethnopsychiatrie.net/CGrandsardEnvelop.htm. Consulté le: 21 juil. 2018

GUERRAOUI, Zohra.; PIRLOT, Gérard. Comprendre et traiter les situations interculturelles. Bruxelas: Groupe de Boeck, 2011.

LAPLANTINE, François. Aprender Etnopsiquiatria. São Paulo: Brasiliense, 1998.

LECOMTE, Yves; JAMA, Sophie; LEGAULT, Gisèle. Présentation: L’ethnopsychiatrie. Santé mentale au Québec, v. 31, n. 2, p. 7-27, 2006.

LÉVI-STRAUSS, Claude. Antropologia Estrutural. São Paulo: Cosac Naify, 2012.

MARTINS-BORGES, Lucienne. Migrações involuntárias e impactos psíquicos: a mediação da cultura. In: PERES, Rodrigo Sanches et al. (Org.). Sujeito contemporâneo, saúde e trabalho: múltiplos olhares. São Carlos: Edufscar, 2017. p. 169-186.

MARTINS-BORGES, Lucienne; POCREAU, Jean-Bernard. A identidade como fator de imunidade psicológica: contribuições da clínica intercultural perante as situações de violência extrema. Psicologia: Teoria e Prática, São Paulo, v. 11, n. 3, p. 224-236, 2009. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-36872009000300016&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 13 jun. 2018.

MORO, Marie-Rose. Principes théoriques et méthodologiques de l’ethnopsychiatrie: L’exemple du travail avec les enfants de migrants et leurs familles. Santé mentale au Québec, v. 17, n. 2, p. 71- 98, 1992.

MORO, Marie-Rose. Parents en exil: psychopathologie et migrations. 2. ed. Paris: PUF, 2001.

MORO, Marie-Rose. Psicoterapia transcultural da migração. Psicologia USP, São Paulo, v. 26, n. 2, p. 186-192, 2015. http://dx.doi.org/10.1590/0103-6564D20140017

NATHAN, Tobie. La folie des autres : traite d’ethnopsychiatrie clinique. Paris: Bordas, 1986.

NATHAN, Tobie. Fier de n’avoir ni pays, ni amis, quelle sottise c’était. Paris: Dunod, 1993.

NATHAN, Tobie. L’Influence qui guérit. Paris: Odile Jacob, 1994.

NATHAN, Tobie. Georges Devereux et l’ethnopsyquiatrie clinique. Nouvelle Revue d’Ethnopsyquiatrie, n. 35-36, p. 7-18, 1998.

NATHAN, Tobie. Entretien avec Tobie Nathan: questions d’ethnopsychiatrie. Outre-Terre, v. 2, n. 11, p. 575-581, 2005.

NATHAN, Tobie. Comment faire place à l’étranger? L’ethnopsyquiatrie et la loi de l’hospitalité. Conférence de Tobie Nathan le 11 février 2014, à l’Institut des Hautes Études des Communications Sociales (Bruxelles).

PIERZO, Marie-Élizabeth; LEGAULT, Gisèle. L’interface Ethnopsychiatrie et intervention sociale. In : LEGAULT, Gisèle. (Org.). L’Intervention interculturelle. Gaëtan Morin: Boucherville, 2001. p. 286-287.

POCREAU, Jean-Bernard. De l’ethnopsychiatrie à la psychiatrie transculturelle: un parcours sensible à la rencontre de l’autre. In: SEFFAHI, Mohammed (Dir.). Autour de Laplantine: d’une rive à l’autre. Paris: Archives contemporaines, 2013. p. 71-89.

POCREAU, Jean-Bernard; MARTINS-BORGES, Lucienne. La cothérapie en psychologie clinique interculturelle. Santé mentale au Québec, v. 38, n. 1, p. 227-242, 2013. https://doi.org/10.7202/1019194ar

ROUDINESCO, Elisabeth; PLON, Michel. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: J. Zahar Editor, 1998.

Téléchargements

Publié-e

2019-09-04

Comment citer

BORGES, L. M.; LODETTI, M. B.; JIBRIN, M.; POCREAU, J.-B. Inflexões epistemológicas: a Etnopsiquiatria. Fractal: Revista de Psicologia, v. 31, p. 249-255, 4 sept. 2019.

Numéro

Rubrique

Dossiê Psicologia e Epistemologias contra-hegemônicas