A medicalização do sofrimento psíquico na cultura do hiperconsumo
DOI:
https://doi.org/10.22409/1984-0292/2022/v34/5825Parole chiave:
consumo, medicalização, publicidade, propaganda, sociedadeAbstract
Na atual fase em que se encontra a sociedade de consumo, estão presentes de forma bastante acentuada os valores do hedonismo, da busca incessante pela felicidade através da aquisição de bens materiais, da negação do sofrimento, dos lazeres, da leveza e do hiperindividualismo. O processo crescente de destradicionalização da sociedade tornou o sujeito ao mesmo tempo livre e instável. Com o enfraquecimento da capacidade ordenadora de instituições como igreja e escola, o sujeito tende a buscar no consumo de bens e serviços uma fonte de segurança, além do uso de medicamentos que aliviam o sofrimento psíquico gerado por esse desamparo. Considerando que a medicalização do sofrimento psíquico atinge largas escalas nessa fase da sociedade contemporânea, o presente trabalho propõe-se a investigar os fatores da cultura do hiperconsumo que funcionam como dispositivos que favorecem o processo da medicalização generalizada. Partiu-se de uma pesquisa bibliográfica na qual foram observados alguns atores que difundem o discurso medicalizante, como a publicidade, a psiquiatria hegemônica e a indústria farmacêutica. As informações apresentadas e organizadas na pesquisa resultam na constatação de que a medicalização é produto tanto de interesses da indústria farmacêutica como da demanda do hiperconsumidor por felicidade, bem-estar e ausência de sofrimento.
Downloads
Riferimenti bibliografici
AGUIAR, Adriano Amaral de. Entre as ciências da vida e a medicalização da existência: uma cartografia da psiquiatria contemporânea. Estados Gerais da Psicanálise: Segundo Encontro Mundial, Rio de Janeiro, 2003. Disponível em: http://egp.dreamhosters.com/encontros/mundial_rj/download/2d_Aguiar_47130903_port.pdf. Acesso em: 10 nov. 2016.
AGUIAR, Adriano Amaral de. A psiquiatria no divã: entre as ciências da vida e a medicalização da existência. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2004.
ANVISA. Ministério da Saúde. Resolução de Diretoria Colegiada, nº 96, de 17 de dezembro de 2008. Dispõe sobre a propaganda, publicidade, informação e outras práticas cujo objetivo seja a divulgação ou promoção comercial de medicamentos. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2008/rdc0096_17_12_2008.html. Acesso em: 31 out. 2016.
ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais – DSM. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA. Depressão: números impressionam e afetam empresas brasileiras. 19 jul. 2010. Disponível em: http://abp.org.br/portal/clippingsis/exibClipping/?clipping=12089. Acesso em: 6 out. 2016.
BBC NEWS BRASIL. Depressão será a doença mais comum do mundo em 2030, diz OMS [online], 02 de setembro de 2009. Disponível em: http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2009/09/090902_depressao_oms_cq.shtml. Acesso em: 6 out. 2016.
BENJAMIN, Walter. Passagens. Belo Horizonte: UFMG, 2007.
BIANCHI, Eugenia et al. Medicalization beyond physicians: pharmaceutical marketing on attention deficit and hyperactivity disorder in Argentina and Brazil (1998-2014). Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 25, n. 2, p. 452-462, 2016. https://doi.org/10.1590/S0104-12902016153981
BRANDÃO, Eduardo Rangel. Publicidade on-line, ergonomia e usabilidade: o efeito de seis tipos de banner no processo humano de visualização do formato do anúncio na tela do computador e de lembrança da sua mensagem. Rio de Janeiro: PUC, 2006.
CÓDIGO de ética dos profissionais da propaganda. Outubro de 1957. Disponível em: http://www.secom.gov.br/acesso-a-informacao/institucional/legislacao/arquivo-de-outros-documentos/codigo-de-etica-profissionais-da-propaganda.pdf/view. Acesso em: 10 out. 2016.
CONAR. Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária. Edição 2020/2021. Disponível em: http://www.conar.org.br/codigo/codigo.php. Acesso em: 10 out. 2016.
DIÁRIO de Pernambuco. Por dias melhores, durma bem à noite [online]. Disponível em: http://hotsites.diariodepernambuco.com.br/local/2015/ViverMais/dia5.shtml. Acesso em: 6 out. 2016.
EWALD, Ariane Patrícia; OLIVEIRA, Dayse de Marie. Mídia farmacêutica: sociedade de consumo e fabricação da loucura. In: CONFERÊNCIA BRASILEIRA DE COMUNICAÇÃO E SAÚDE, VII, 2004, Recife. Anais... Recife: Consaúde, 2004.
GIANNETTI, Eduardo. Felicidade: diálogos sobre o bem-estar na civilização. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
GUARIDO, Renata. A medicalização do sofrimento psíquico: considerações sobre o discurso psiquiátrico e seus efeitos na Educação. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 33, n. 1, p. 151-161, 2007. https://doi.org/10.1590/S1517-97022007000100010
HOHLFELDT, Antonio; MARTINO, Luiz C.; FRANÇA, Vera Veiga. Teorias da comunicação: conceitos, escolas e tendências. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
IGNÁCIO, Vivian Tatiana Galvão; NARDI, Henrique Caetano. A medicalização como estratégia biopolítica: um estudo sobre o consumo de psicofármacos no contexto de um pequeno município do Rio Grande do Sul. Psicologia & Sociedade, Porto Alegre, v. 19, n. 3, p. 88-95, 2007. https://doi.org/10.1590/S0102-71822007000300013
KLEIN, Naomi. Sem logo: a tirania das marcas num planeta vendido. Rio de Janeiro: Record, 2008.
KOLAKOWSKI, Leszek. A presença do mito. Brasília: UNB, 1981.
KOTLER, Philip. Marketing: edição compacta. São Paulo: Atlas, 1988.
LIMA, Telma Cristiane Sasso de; MIOTO, Regina Célia Tamaso. Procedimentos metodológicos na construção do
conhecimento científico: a pesquisa bibliográfica. Revista Katálysis, Florianópolis, v. 10, n. spe., p. 37-45, 2007. https://doi.org/10.1590/S1414-49802007000300004
LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo. São Paulo: Companhia das letras, 2007.
PESSOTTI, Isaias. Para compreender a ‘vida dura’. Folha de São Paulo [online], 26 de janeiro de 2003. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs2601200303.htm. Acesso em: 10 set. 2016.
ROCHA, Silvia Pimenta Veloso. O homem sem qualidades: modernidade, consumo e identidade cultural. Comunicação, mídia e consumo, São Paulo, v. 2, n. 3, p. 111-122, mar, 2005. Disponível em: http://revistacmc.espm.br/index.php/revistacmc/article/view/28/28. Acesso em: 20 jun. 2016.
THOMPSON, John B. Ideologia e cultura moderna: teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa. 4. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.
##submission.downloads##
Pubblicato
Come citare
Fascicolo
Sezione
Licenza
Copyright (c) 2022 Marcio Acselrad, Davi Barros Tavares
TQuesto lavoro è fornito con la licenza Creative Commons Attribuzione 4.0 Internazionale.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Creative Commons Attribution License que permitindo o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria do trabalho e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
This work is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Na medida do possível segundo a lei, a Fractal: Revista de Psicologia renunciou a todos os direitos autorais e direitos conexos às Listas de referência em artigos de pesquisa. Este trabalho é publicado em: Brasil.
To the extent possible under law, Fractal: Revista de Psicologia has waived all copyright and related or neighboring rights to Reference lists in research articles. This work is published from: Brasil.