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Chamada para submissões de fluxo contínuo

2024-04-24

A Revista Fluminense de Educação Física comunica que está recebendo contribuições em fluxo contínuo. Aceitamos colaborações em forma de artigos originais, relatos de experiência, ensaios, resumos de teses e dissertações, entrevistas e resenhas que abordem temas da área de Educação Física . Estamos com chamada aberta para o novo número. Atenção às normas editoriais para o envio de submissões, disponíveis na página da revista.

  Saudações do Corpo Editorial

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Edição Atual

v. 4 n. 2 (2023): Dossiê: A extensão universitária como espaço de produção de conhecimento e experiência do circo
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Tema: A extensão universitária como espaço de produção de conhecimento e experiência do circo.

Grafismos, figuras rupestres, pinturas, esculturas, escritas registram que, historicamente, o que entendemos hoje por atividades circenses, compõem a cultura corporal da humanidade. Perpassando por milhares de anos fez das feiras, das festas, das ruas, dos becos, das praças e, mais atualmente, da lona, seus espaços de existência e resistência.

Pareado aos tempos áureos de expansão capitalista, aproximadamente a partir de 1870, o circo protagonizou a maior indústria de entretenimento do mundo: superando os deslocamentos a cavalo, embarcou no desenvolvimento tecnológico, e, ocupando milhares de vagões de trens, ultrapassavam os limites territoriais europeus. Chegado no coração do capitalismo, a partir de aproximadamente 1900, passou a dominar a cultura popular americana, reunindo sob as lonas, públicos de até 20 mil expectadores num único dia (Daniel, 2010).

Porém, com o surgimento de outras formas de ocupação do tempo livre, como rádio e televisão, já se aproximando da década de 1930, o circo vai perdendo seu espaço e entrando em crise. Com pouca perspectiva de resistência, muitas famílias encaminham seus filhos e filhas para casas de parentes, com vias a estudar e ter outras profissões. Contraditoriamente, essas famílias, que ensinavam aos seus filhos e filhas todo o trabalho de circo (armar e desarmar as lonas, fazer a praça, elaborar figurinos, vender a pipoca, protagonizar as apresentações e etc.) passaram a incorporar outras pequenas famílias, já experimentando profundamente a crise. No entanto, com o passar do tempo a necessidade de novos artistas foi sendo latente e gerando reivindicação, por parte das famílias, de políticas públicas para formação de artistas (Silva, 1996).

Em resposta, o setor público de cultura, seguido de espaços privados, começam a criar as Escolas de Circo, como a Escola Nacional de Circo Luiz Olimecha, no Rio de Janeiro, em 1982, dentre tantas outras. E, se no seio das famílias circenses a forma de transmissão dos conhecimentos de circo se davam exclusivamente pela via tradicional, com a criação dessas Escolas, com o passar do tempo, os professores, em sua maioria artistas circenses, foram partilhando espaço com docentes com formação universitária, imbuídos de um saber sistematizado para o ensino.

Os estudos de Duprat, Barragàn e Bortoleto (2017) incentivaram que, a partir da década de 1990, as atividades circenses passam a ser tematizados nas escolas, principalmente, mas não exclusivamente, pelos/as professores/as de Educação Física. Esses docentes, ainda que baseados em suas experiências empíricas e exploração assistemática desse conhecimento, foram elaborando suas primeiras propostas pedagógicas. Esses autores também relatam que, a partir dos anos 2000, há um aumento da inclusão das atividades circenses nas aulas de Educação Física, pari passu com as produções acadêmicas sobre esse temário. O reconhecimento da produção de conhecimento em circo também foi registrado, nesse mês de abril, pela Revista Pesquisa da FAPESP, ao veicular que “[...] disciplinas relacionadas às artes circenses estão ganhando espaço na grade curricular de outros cursos, como artes cênicas e educação física” (Vaz, 2024, n.p.). Entrevistado pela referida Revista, Bortoleto afirmou que cresceu também o número de pesquisas sobre circo, em especial na pós-graduação, o que releva ao Brasil importância latino-americana nesse tema.

Convictos de que ensino, pesquisa e extensão se relacionam, dialeticamente, e assim, sustentam a Universidade pública, mas, com preocupação particular de que à extensão, no interior deste tripé, não é dada a mesma importância, um coletivo de professores de Universidades brasileiras, que tematizam o circo em seus projetos e programas de extensão, passaram a se reunir, em 2023, e, a convite da Revista Fluminense de Educação Física apresentam esse dossiê, intitulado “A extensão universitária como espaço de produção de conhecimento e experiência do circo”, sob coordenação das Professoras Dras Rita de Cassia Fernandes e Gláucia Andreza Kronbauer.

Esse dossiê acolheu manuscritos que se ocupam das discussões do ensino das atividades circenses na extensão universitária evidenciando a produção do conhecimento e as experiencias em circo, ali realizadas. Os artigos versam acerca do circo e a curricularização da extensão universitária, desde a Universidade Federal de Uberlândia; às experiências vividas no Campus do Pantanal da UFMS; o balanço do projeto Circus/UNICAMP em seus 17 anos de existência; o trato que o projeto Prax-circense tem realizado com o conhecimento tradicional e científico das atividades circenses; e, relatos sobre a participação de crianças em 66 oficinas de atividades circenses realizadas pelo projeto Circo em Contextos da UNICENTRO/PR.

Na capa, saudamos Erminia Silva, a quem dedicamos esse dossiê, por sua luta e resistência de uma vida dedicada ao circo

Assim como o circo: Existimos e resistimos! Boa leitura!

Equipe Editorial da Revista Fluminense de Educação Física

Arte da Capa:

Desenho na Capa (foto): Lembrança dos artistas do Circo Pan-Americano, 1961. Entre as crianças, a segunda, da esquerda para a direita, é Erminia Silva.

 

Referências:

DANIEL, Noel. The circus. 1870-1950. Los Angeles: Taschen, 2010.

DUPRAT, Rodrigo Mallet; BARRAGÁN,  Teresa Ontañón; BORTOLETO, Marco Antonio Coelho. Atividades Circenses. In: GONZÁLEZ, Fernando Jaime; DARIDO, Suraya Cristina; OLIVEIRA, Amauri Aparecido Bássoli. Ginástica, dança e atividades circenses. 2 ed. Maringá: Eduem, 2017.

SILVA, Erminia. O circo: sua arte e seus saberes. Dissertação (Mestrado em história). UNICAMP, Campinas, 1996.

VAZ, Juliana. Mesmo sem curso de graduação, produção científica sobre o circo avança no país. Disponível em Mesmo sem curso de graduação, produção científica sobre o circo avança no país : Revista Pesquisa Fapesp, acessado em 24/04/2024.

 

APRESENTAÇÃO:

 

 EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA COMO ESPAÇO DE PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO E EXPERIÊNCIA DO CIRCO

 

Gláucia Andreza Kronbauer[1]

Rita de Cássia Fernandes[2]

 

 

As atividades circenses contemplam ampla variedade de manifestações da cultura corporal elaboradas pela humanidade em diferentes tempos e espaços de sua história. Fruto de misturas, atravessamentos, disputas de memórias que se (re)fazem na polissemia, independentemente do contexto em que aparece, o circo possui no corpo o seu principal artista. Ora sublime, ora grotesco, o corpo no circo expõe a potência humana e nos conecta com a totalidade a partir daquilo que não realizamos como indivíduos, mas que temos a possibilidade de realizar como sociedade. Ao tratar da contemporaneidade circense, Ermínia Silva nos advertia que “é preciso pensar o circo a partir de épocas e sociedades concretas, nas quais estabelecem relações específicas com tradições, valores, hábitos e manifestações culturais” (SILVA, 2003, p. 1). Isso significa que o circo nunca deixou de dialogar com o contexto, conformando uma linguagem  artística que reúne os saberes populares, as inovações e outros elementos característicos de cada época. 

Chamamos a atenção, em especial, para o surgimento de escolas de circo que, no Brasil, desde a década de 1980 tem ampliado a possibilidade de acesso aos saberes do povo do circo por parte daqueles que não integram comunidades ou grupos circenses (SILVA, 1996), inaugurando novos modos de organização do trabalho e dos processos de ensino-aprendizado. Como nos alertou a mesma autora, o “novo” não reside na estética, mas nos elementos destacados anteriormente (SILVA, 2011).

A partir deste momento histórico, é notório que mais e mais pessoas tem experimentado outras tantas possibilidades de interação com a linguagem circense para além da condição de expectadores, fomentando possíveis modificações na forma como a sociedade brasileira concebe o circo (BORTOLETO, 2023). Assim, para o mesmo autor, o circo “(...) passou a ser neste período recente, uma arte passível de experienciar, e, com isso, uma forma de educar corpos e também de produzir uma educação estética e artística” (p.237).

Recentemente, os saberes circenses passaram a ser reconhecidos, também, a partir de seu potencial educativo e de sua importância cultural, se tornando objeto do olhar acadêmico. Ainda que raramente encontre espaço nas matrizes curriculares dos cursos de graduação em Educação Física (TUCUNDUVA, 2015; MIRANDA; AYOUB, 2017), muitos estudos têm se concentrado em explorar as potencialidades que emergem da relação entre o circo e a universidade. Na mesma direção, destacamos um número expressivo de artigos que relatam experiências com as atividades circenses em estágios curriculares, no Programa de Iniciação à Docência (PIBID), e nas ações extensionistas (MIRANDA; AYOUB, 2017; TUCUNDUVA; BORTOLETO, 2019; FILUS ET AL., 2023), mostrando o maior interesse das universidades sobre a temática.

Independentemente do foco das ações, encontramos na extensão universitária um espaço privilegiado para a construção de conhecimentos academicamente fundamentados, em diálogo com a realidade, conforme dispõem as Diretrizes para as Atividades de Extensão na Educação Superior Brasileira (BRASIL, 2018). Na mesma direção, diferentes estudos têm sinalizado a relevância deste contexto para a legitimação e maior visibilidade da linguagem circense na Universidade (TUCUNDUVA, 2015; MIRANDA; AYOUB, 2017), ressaltando esta arte como patrimônio cultural da humanidade, ao mesmo tempo em que tecem questionamentos sobre o papel da Universidade na construção de respostas alinhadas aos desafios do campo social, cultural, político, ético e estético.

Ademais, entendemos que a produção de conhecimentos no campo da extensão visa consolidar uma abordagem socialmente referenciada, respaldada pelo compromisso ético e político que exige a relação dialógica da universidade com a sociedade. Considerando os aspectos delineados anteriormente, o coletivo docente do qual fazemos parte, e que contribui com a produção que ora apresentamos, representa universidades brasileiras de distintos Estados. Buscamos implementar ações de diversas naturezas para dar visibilidade, problematizar e avaliar as ações extensionistas de circo desenvolvidas, repensar as práticas pedagógicas na extensão, bem como oferecer subsídios para este debate.

Num mundo cada vez mais individualizado, nos fortalecemos na coletividade para enfrentar os desafios e entraves, mas também as idiossincrasias e possibilidades do circo no cenário brasileiro. Caminhamos a passos pequenos, porém com a força, ousadia e prudência necessária para sermos “mais visíveis” como pesquisadores (BORTOLETO, 2023), buscando contribuir de algum modo para a formação e qualificação profissional frente à crescente demanda instaurada em nossos tempos para o ensino do circo no Brasil.

É também neste coletivo que buscamos consolo e partilhamos nossa consternação diante da partida da querida professora e amiga Ermínia Silva. Aqui queremos manter viva sua memória e as importantes contribuições ao cenário circense, em especial ao abrir portas para o circo no campo acadêmico. Cada uma de nós foi de alguma forma afetada por Ermínia; cada trabalho deste dossiê traz suas obras como referência. Para além de uma produção acadêmica rica, feita com rigor metodológico e profundo respeito às pessoas que são e fazem circo, sua existência é um legado inspirador.

Nesse ensejo, não passa despercebida a perenidade dos conhecimentos até então produzidos e, ao mesmo tempo, a insistente renovação da cena circense contemporânea, quando identificamos os inúmeros produtos gerados por meio destas iniciativas, a oportunidade de novos diálogos, alteridades e compartilhamentos de experiências em contextos e realidades diversas, sem falar da contribuição ao processo formativo dos graduandos de diferentes áreas. Enfim, ao reforçarmos as potencialidades educativas do circo na extensão, esperamos que o comungar destas experiências possam contribuir com outros educadores interessados no circo, quer seja atuando no contexto da extensão universitária ou em outro qualquer.

Portanto, ao considerar a relevância da extensão universitária no fomento do circo, esse dossiê abre espaço para a socialização de conhecimentos construídos em múltiplos contextos da realidade brasileira, que,  claramente,  vêm contribuindo para o trato do circo no âmbito da universidade. Ao mesmo tempo, se constitui como uma pequena homenagem àquela que tanto nos inspirou, seja por meio de sua militância ou simplesmente pela sua doce presença, possibilitando de diversas formas fundamentos para nossas ações. Obrigada Ermínia!

                                                                                

REFERÊNCIAS

 

BORTOLETO, Marco A. Não somos fantasmas que circulam invisíveis nas universidades brasileiras: somos pesquisadores de circo. In:  INFANTINO, Julieta. A arte do circo na América do Sul: trajetórias, tradições e inovações na arena contemporânea. São Paulo: Edições SESC, 2023, p. 226-242.

 

BRASIL. Resolução CNE/CES Nº 7, de 18 de dezembro de 2018. Diretrizes Nacionais para a Extensão na Educação Superior Brasileira. Brasília: Ministério da Educação, 2018.

 

FILUS, Cristina A.; MACHADO, Caroline M.; SILVA, Elizandra G.; KRONBAUER, Gláucia A. Experiências com o nariz vermelho – saúde e o corpo que envelhece. Urdimento, Florianópolis, v2, n. 47, p. 1-28, 2023. DOI: http:/dx.doi.org/10.5965/1414573102472023e0109

MIRANDA, Rita C. F.; AYOUB, Eliana. Por entre as brechas dos muros da universidade: O circo como componente curricular na formação inicial em Educação Física. Revista Portuguesa de Educação, v. 30, n. 2, p. 59-87, 2017. DOI: https://doi.org/10.21814/rpe.11867

 

SILVA, E. O Circo: sua arte e seus saberes. (Dissertação de Mestrado). Departamento de História, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 1996.

 

SILVA, Ermínia. As múltiplas linguagens na teatralidade circense: Benjamin de Oliveira e o circo-teatro no Brasil no final do século XIX e início do século XX. (Tese de Doutorado). Departamento de História. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 2003.

 

SILVA, Erminia. “O novo está em outro lugar. In: Palco Giratório, 2011: Rede Sesc de Difusão e Intercâmbio das Artes Cênicas. Rio de Janeiro; SESC, Departamento Nacional, 2011, pp. 12-21, 108p.

 

TUCUNDUVA, Bruno B. O circo na formação inicial em Educação Física: Inovações docentes, potencialidades circenses. (Tese de Doutorado). Faculdade de Educação Física. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 2015.

 

TUCUNDUVA, Bruno B. P.; BORTOLETO, Marco A. C. O Circo e a inovação curricular na formação de professores de Educação Física no Brasil. Movimento, Porto Alegre, v. 25, p. 1-14, 2019. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.88131

 

[1] Formação, Instituição de atuação/estudo. Endereço eletrônico.

[2] Doutora em Educação. Faculdade de Educação Física e Fisioterapia/ Universidade Federal de Uberlândia. rita.miranda@ufu.br.

Publicado: 2024-04-26
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