v. 35 n. 68 (2024): Fronteiras e subversões da narrativa criminal
Gêneros como o romance de enigma, o filme noir, o police procedural e as histórias de gângster são, como aponta John G. Cawelti (1976), formulaicos, ou seja, partem de certos padrões de enredo, personagens arquetípicos e temas recorrentes como matriz para a produção de um extenso corpus de narrativas. Autores como Todorov (1966) verão, dessa forma, a repetição do modelo com o parâmetro de sucesso das obras, afirmando que “O romance policial por excelência não é aquele que transgride as regras do gênero, mas o que a elas se adapta”. (p. 94). No entanto, do whodunit da era de ouro da ficção detetivesca à multifacetada narrativa criminal contemporânea, é nítida a multiplicação de formas e conteúdos explorados por esse tipo de obra. Tais mudanças não seriam possíveis sem que houvesse quem, discordando de Todorov, transgredisse as normas do gênero justamente para renová-lo, como o faz, por exemplo, o próprio Raymond Chandler – o que fica claro ao lermos seu “The Simple Art of Murder” (1950). Dessa forma, buscamos, nesse número, trabalhos interessados em explorar as fronteiras do gênero e as diversas subversões que tensionam as fórmulas engessadas na direção de uma renovação da narrativa criminal. A ideia de fronteira, aqui, servirá tanto em seu sentido das limitações (de estrutura, temas, mídias etc.) daquilo que é identificado como parte de um gênero, quanto no sentido geográfico, pensando as maneiras como o deslocamento na direção das margens dessa produção acaba também subvertendo suas fórmulas, expectativas e convenções.
Organização: Carla Portilho (UFF), Vanessa Cianconi Viana (UERJ) e Pedro Puro Sasse da Silva (UFF)