v. 1 n. 1 (2021): Edição Especial

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Editorial

A expansão desenfreada da Covid-19 invadiu a vida do planeta e de todos nós, desde o início de 2020 até o momento presente. Trata-se de um fenômeno que nos impele à busca do seu movimento histórico e daquilo que vem alimentando suas contradições mais profundas. Nesse sentido, faz-se necessário apreendê-lo não como um fato novo, como um elemento inédito diante da dinâmica capitalista. Ao contrário, sem perder de vista suas especificidades, a pandemia do novo Coronavírus é produto de uma ação destrutiva e recorrente no funcionamento do capitalismo. Isso se expressa, por exemplo, ao observarmos o avanço do neoliberalismo com seus ataques sistemáticos ao meio ambiente, em nível planetário; suas ações deliberadamente predatórias sobre os serviços públicos essências, a exemplo das ameaças contidas nas políticas públicas de educação, saúde, segurança, habitação, transporte etc. Note-se aqui o esgarçamento promovido às condições de sobrevivência dos trabalhadores e às suas conquistas históricas, alcançadas na luta coletiva em defesa do trabalho, da moradia, enfim, em defesa da própria vida! O resultado dessas ameaças quando confrontadas com o conjunto de conquistas das trabalhadoras e trabalhadores espalhados ao redor mundo, mas, em especial, no Brasil, indica ser o caminho mais curto para o avanço do vírus em escala geométrica. À conjuntura brasileira, soma-se, ainda, a ascensão do governo do presidente do Brasil em exercício nesse ano de 2021: uma combinação nociva à vida da classe trabalhadora. Tal evidência se impõe à medida em que a morte pela Covid-19 se revela como uma política que associa a seu caráter mortífero, práticas de setores do mercado voltadas prioritariamente para a extorsão e a rapina. Deste modo, a pandemia se amplia em território nacional seja pela naturalização da contaminação, seja pela opção feita pelo atual governo por ações de boicote à vacinação. Nesse contexto, pensar a educação física escolar nos remete a pensá-la integrada a essa conjuntura. 

Considerando essa conjuntura, o XV Encontro Fluminense de Educação Física Escolar (XV EnFEFE) pautou a discussão relacionada à Escola, Educação Física e os impactos do avanço conservador. Nessa Edição Especial, a Revista Fluminense de Educação Física encerra as edições comemorativas e traz as comunicações orais e a mesa de encerramento da segunda etapa do XV EnFEFE. Em uma primeira sessão de comunicações,  Pollyana Mergulhão Barreto, Victoria Oliveira Modesto, Karen Cristina Rezende apresentaram O (des)avanço neoliberal da BNCC e a educação física - uma educação para o mercado de trabalho; Michele Pereira de Souza da Fonseca, Samara Oliveira Silva, Mariana Peres trouxeram as Produções científicas sobre altas habilidades/superdotação no campo da educação física; Carlo Giovani de Jesus Bruno argumentou Entre o retrocesso da esportivização e a busca pela educação integral. Uma análise/relato do projeto GEO e; Silvia Cristina Nogueira nos mostrou Um olhar sobre as dinâmicas na escola da ponte: práticas pedagógicas no currículo em geral e em específico na educação física.

Já a segunda sessão de comunicações, Luna Aparecida Gonçalves Dos Reis, Solange Rodovalho Lima, Francisco Felipe Pacheco da Silva trouxe o Atletismo como possibilidade de ensino na educação infantil; Osvaldo Oliveira expôs a Educação física escolar no Programa de Educação de Jovens e Adultos (PEJA) no Centro de Referência de Educação de Jovens e Adultos (CREJA) SME/RJ durante pandemia - desafios e possibilidades; Thayane Araujo Rodrigues e Ingrid Amorim Lourenço Corrêa deram visibilidade aos Corpos e juventudes: tessituras de si nas redes do cotidiano escolar; Glória Lontra Baptista explorou O ensino remoto emergencial e os desafios de uma professora de educação física que atua no ensino fundamental e; Nayara Ribeiro da Silva Melo com Bruna Vilhena Monteiro Silva mobilizaram a discussão com Infâncias em diálogo com danças urbanas: um relato de experiência no contexto pandêmico estiveram presentes.

Da mesa de encerramento, intitulada “A organização coletiva como forma de resistência e resposta ao avanço conservador”, contamos com A organização coletiva como forma de resistência e resposta ao avanço conservador: o MNCR de Hajime Nozaki (UFJF/MNCR) e; Diretrizes curriculares nacionais de educação física: resistências necessárias e possíveis de Roberto Furtado (UFG/Comitê contra atuais DCNs).

Esse coletivo de autores e autoras, sob diferentes perspectivas, indica o quanto as diversas ações de luta e resistência ganham espaço e se organizam em nível nacional. Ações que têm sido implementadas por entidades científicas, acadêmicas, estudantis, entre outras, e se levantam contra o projeto dominante que avança com o propósito de forjar um novo perfil docente, moldado pelo ideário liberal de profissionalização do professor sob as exigências do mercado. 

Nos unindo aos autores e autoras, a Revista Fluminense de Educação Física, atenta às transformações movidas tanto por ações de retrocesso, quanto por ações de avanço, se posiciona no do campo da luta e da resistência. É nesse espírito que lança o presente número neste momento tão desafiador como o que nos encontramos.

Boa leitura!

Créditos da capa:

* Arte:  Micheli Ghiggi. Foto: acervo de Ayla Jalil, graduanda em educação física na UFF.

 

Publicado: 2021-09-21

Relato de experiência