O DESASTRE DE FUNDÃO E A ADVOCACIA EM QUESTÃO
DOI:
https://doi.org/10.22409/tn.v20i41.52910Abstract
O objetivo da dissertação é analisar a prática advocatícia no contexto do rompimento da barragem de rejeitos de mineração da empresa Samarco Mineração S.A e de suas controladoras Vale S.A e BHP Billiton, ocorrido no dia 5 de novembro de 2015, no município de Mariana, Minas Gerais. Tem-se neste desastre diferentes usos do direito, observáveis nos desdobramentos jurídicos e institucionais do caso, onde tem se desenvolvido conflitos, que possibilitam um nicho fecundo de investigação. Partiu-se da hipótese de que o desastre tem servido como experimento para testar modelos e mecanismos jurídicos de reparação de danos, como fonte para negociar os desdobramentos da prática da extração mineral, tendo em vista a atual conjuntura neoextrativista. Neste cenário, parece possível entrever tendências e discursos jurídicos de ênfase empresarial sobre o direito e, por conseguinte, problematizar a retórica de advogados que se afastam da realidade dos diversos territórios amplamente atingidos. Os aportes teóricos e metodológicos deste trabalho partem da pesquisa empírica no direito a partir da teoria crítica, por meio dos métodos da pesquisa qualitativa, como o estudo de caso, associado à pesquisa de campo nos territórios atingidos, além de entrevistas semiestruturadas com advogadas(os) que atuaram em diferentes momentos do desastre a partir de tipos de advocacia distintos e análise de documentos jurídicos referentes à litigância em torno da disputa por direitos das populações atingidas em tensão com os interesses das empresas por reduzir custos da reparação. Como resultado, apontam-se agendas voltadas para o uso do direito enquanto instrumento de legitimação de eixos civilistas tradicionais, os quais, em última análise, auxiliam a sustentar a dinâmica econômica neoliberal e a pulverizar o crime ambiental, transmudando-o em quantificação de danos. Além dos usos do direito alinhados às tendências atuais de sua globalização, em consonância com as transformações do capitalismo, observam-se seus usos contra-hegemônicos, que se aproximam da perspectiva dos conflitos socioambientais, sobretudo por meio da advocacia popular, que evidenciam o direito como campo de conflito.
Downloads
References
ARÁOZ, H. M. Mineração, genealogia do desastre: o extrativismo na América como origem da modernidade. São Paulo: Elefante, 2020.
LASCHEFSKI, K. A. Rompimento de barragens em Mariana e Brumadinho (MG): Desastres como meio de acumulação por despossessão. AMBIENTES: Revista de Geografia e Ecologia Política, Paraná, v. 2, n. 1, p. 98-143, 2020.
LYRA FILHO, R.. O que é direito. São Paulo: Círculo do Livro, 1990.
MILANEZ, B.; LOSEKANN, C. (org.). Desastre no Vale do Rio Doce: antecedentes, impactos e ações sobre a destruição. Rio de Janeiro: Letra e Imagem, 2016.
MACHADO, M. R. (org.). Pesquisar empiricamente o direito. São Paulo: Rede de Estudos Empíricos em Direito, 2017.
MANSUR, M. S.; WANDERLEY, L. J.; MILANEZ, B.; SANTOS, R. S. P. dos; PINTO, R. G.; GONÇALVES, R. J. de A. F.; COELHO, T. P. Antes Fosse Mais Leve a Carga: introdução aos argumentos e recomendações referentes ao desastre da Samarco/Vale/BHP Billiton. In: ZONTA, M.; TROCATE, C. (org.). Antes fosse mais leve a carga: reflexões sobre o desastre da Samarco / Vale / BHP Billiton. Marabá: Editorial Iguana, 2016. p. 16-49.
RIBEIRO, A. M. M.; FREITAS, E. O; MADEIRA FILHO, W. M.; BORGES, N. M.; NOVAES, R. B. Pesquisa empírica em Direito a partir da Teoria Crítica: as contribuições da escola teórico-metodológica do PPGSD e do Observatório Fundiário Fluminense (OBFF). In: OLIVEIRA, V. L. de; RIBEIRO, A. M. M.; LOBÃO, R. (org.). O Brasil que arde e a boiada que passa: instituições, conflitos e relações de poder. Rio de Janeiro: Autografia, 2020. p. 265-307.
SOUZA, T. R. de; CARNEIRO, K. G. O direito das “pessoas atingidas” à assessoria técnica independente: o caso de Barra Longa (MG). Revista Sapiência: Sociedade, Saberes e Práticas Educacionais, v. 8, n. 2, p.187-209, 2019.
SVAMPA, M. Neoextractivismo y desarrollo. In: SVAMPA, M. Las fronteras del neoextractivismo en América Latina: conflictos socioambientales, giro ecoterritorial y nuevas dependencias. Bielefeld Univ. Press, 2019. p. 14-30.
THOMPSON, E. P. Senhores e caçadores: a origem da Lei Negra. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
TROCATE, C.; COELHO, T. Quando vier o silêncio – o problema mineral brasileiro. São Paulo: Fundação Rosa Luxemburgo, Editora Expressão Popular, 1. ed., 2020.
WANDERLEY, L. J.; GONÇALVES, R. J. de A. F. Mineração e as escalas dos conflitos no espaço agrário brasileiro. In: CANUTO, A.; LUZ, C. R .da S.; SANTOS, P. C. M. dos. (coord.). Conflitos no campo: Brasil 2018. Goiânia: CPT Nacional, 2019. p. 6-33.
________________; GONÇALVES, R. J. de A. F.; MILANEZ, B.. O interesse é no minério: o neoextrativismo ultraliberal marginal e a ameaça de expansão da fronteira mineral pelo governo Bolsonaro. Revista da ANPEGE, v. 16. n. 29, 2020. p. 549-593.
VALENCIO, N. Dos desastres recorrentes aos desastres à espreita. In: ZHOURI, A.; VALENCIO, N. (org.). Formas de matar, de morrer e de resistir: limites da resolução negociada de conflitos ambientais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013, p. 204-236.
ZHOURI, A.; OLIVEIRA, R.; ZUCARELLI, M.; VASCONCELOS, M.. O desastre do rio doce: entre as políticas de reparação e a gestão das afetações. In: ZHOURI, A.(Org.). Mineração, violências e resistências: um campo aberto à produção de conhecimento no Brasil. 1.ed. Marabá: Editorial Iguana; ABA., 2018. p. 28-64.
Published
How to Cite
Issue
Section
License
Copyright (c) 2022 Revista Trabalho Necessário
This work is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International License.
DECLARAÇÃO DE DIREITO AUTORAL
Esta Revista é licenciada por Creative Commons (Atribuição 4.0 Internacional).
O processamento e a publicação dos trabalhos não implicam em nenhum tipo de custo para os autores.
Os autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
DECLARACIÓN DE DERECHO AUTORAL
Esta revista es licenciada por Creative Commons (Atribuición 4.0 Internacional).
Lo procesamiento y la publicación de los trabajos no implica en ninguno tipo de costo para los autores.
Los autores tienen permiso para asumir contratos adicionales separadamente, para distribución no exclusiva de la versión del trabajo publicada en esta revista (ej.: publicar em repositorio institucional o como capítulo de un libro), con reconocimiento de autoria y publicación inicial en esta revista.
DECLARATION OF COPYRIGHT
The Journal is licensed by Creative Commons (Attribution 4.0 International).
Processing and publication of the work do not imply any cost to the authors.
The authors are allowed to take on additional contracts separately, non-exclusive distribution of the version of the paper published in this journal (ex.: publish in institutional repository or as a chapter of a book), with an acknowledgment of its initial publication in this journal.
Termo de Transferência de Direitos Autorais
Como condição para a submissão, os autores devem declarar a autoria do trabalho e concordar com o Termo de Cessão de Direitos Autorais, marcando a caixa de seleção após a leitura das cláusulas.
- Declaro que participei da elaboração do referido artigo / resenhas ou de outros elementos para a composição das seções da Revista TrabalhoNecessário-TN, em parte ou no todo; que não omiti qualquer ligação ou acordo de financiamento entre os autores e instituições ou empresas que possam ter interesses na publicação desse trabalho;
- Declaro tratar-se de texto original, isento de compilação, em parte ou na íntegra, de minha autoria ou de outro(os) autor (es) e que segui(mos) as diretrizes (normas e instruções) para os autores;
- Declaro que o texto não foi enviado a outra revista (impressa ou eletrônica) e não o será enquanto a possibilidade de sua publicação esteja sendo considerada pela Revista Trabalhonecessário;
- Declaro que transfiro os direitos autorais do trabalho especificado para a Revista TrabalhoNecessário, comprometendo-me a não reproduzir o texto, total ou parcialmente, em qualquer meio de divulgação (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), impresso ou eletrônico, sem prévia autorização dessa Revista, com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Declaro que tenho conhecimento que a cessão do texto à Revista TrabalhoNecessário-TN é gratuita e, portanto, não haverá qualquer tipo de remuneração pela sua utilização.