v. 2 n. Especial (2022): Bilinguismo no Instituto Nacional de Educação de Surdos: Práticas Instituintes e Inovações Pedagógicas
"A ideia que deu origem a este número especial poderia ser contada de várias formas,
mas subitamente ela retorna ao organizador deste número quando de sua leitura da
passagem acima. O conto que a contém está em um livro de Jorge Luis Borges, chamado O
Aleph (1949). Nele, em "A Escrita do Deus”, o autor recorre à passagem não para enxergar
neste ou naquele homem a resultante passiva de um conjunto de circunstâncias que o move.
Não, antes disto é para perceber que o caminho feito é, ele próprio, parte do lugar onde se
chega e que não existiria fora das experiências que constituem homem e caminho. Neste
sentido, o autor nota que a forma encontrada, por cada um de nós, para buscar o fim a que
nos propomos não pode ser outra que não as próprias circunstâncias que nos encarceram
neste único mundo concreto, existente frente a tantos outros mundos possíveis.
[...]
Os textos reunidos neste número especial trazem em comum o esforço de buscar
refletir e registrar estas novas circunstâncias e desafios da educação de surdos e ouvintes no
contexto das iniciativas no INES.
Nunca tínhamos experienciado um curso a distância que se propôs a usar Libras como língua
de instrução: um desafio. Os problemas que vivenciamos não foram os que imaginávamos:
nesta perspectiva, aprendemos a nos inovar pedagogicamente. Vivemos assim, o desafio de
colocar em interação tecnologias, Libras e Língua Portuguesa, tudo junto e embolado, para
conseguirmos viver uma escola que inclui não apenas alunos surdos, mas também
professores surdos e ouvintes, todos com diferentes níveis de proficiência em Libras. Neste
contexto, a bidocência e o bilinguismo se afirmaram neste espaço educacional.
Ferramentas como: o Manuário Acadêmico e Escolar, online, em construção, com sinais
específicos das áreas de Pedagogia e de Ensino; a plataforma do curso de graduação em EAD;
o repositório digital para agregar e disponibilizar materiais; e recursos audiovisuais
contemporâneos têm sido essenciais para organizar e viabilizar as interações entre surdos e
entre surdos e ouvintes. No ensino superior, o desafio é ensinar os dois ao mesmo tempo,
propondo uma relação entre a Libras e a Língua Portuguesa falada e escrita que não seja a
alternância na forma da tradução, mas sim com o uso complementar que permite a surdos e
a ouvintes construírem sentidos, assim como a própria Libras se constitui no processo.
Com este fomos levados a refletir sobre temas como o encerramento das atividades da TV
INES, que foi uma grande perda para todos. O dia a dia nos bastidores da TV foi exigindo dos
dois grupos uma mudança de paradigma com relação à comunicação, espaço bilíngue e
aceitação das diferenças. A experiência gerou a inclusão na dinâmica de trabalho de novas técnicas que possibilitaram a construção de um material bilíngue totalmente acessível à
comunidade surda."