O que a luta feminista (pela legalização do aborto) nos alerta?
DOI:
https://doi.org/10.22409/resa2024.v17.a58855Palabras clave:
aborto, interseccionalidade, hierarquias reprodutivas, justiça reprodutiva, maternidades subalternasResumen
Em tempos de luta feminista pela legalização do aborto no Brasil, ainda é comum escutarmos que o aborto - prática que sempre aconteceu e seguirá acontecendo a despeito de qualquer lei - é um problema de saúde pública. De fato, ele o é, mas não deve ser circunscrito unicamente por esse viés. Por isso, esse artigo intenta dar evidência aquilo que a luta feminista pela legalização nos alerta: o aborto se inscreve como política de vida. Abortar afirma vida porque foge dos segmentos mortíferos que estruturam a imposição de maternidade às mulheres. Diante da ausência da garantia do direito de uma maternidade voluntária, segura e socialmente amparada para todas, pensamos as hierarquias reprodutivas e as maternidades subalternizadas, atravessadas por raça, classe, geração/idade e parceria sexual. Através da história do aborto nos EUA, levantamos o alerta sobre os processos reprodutivos das mulheres, incluindo as esterilizações compulsórias, em um feminismo capturado pela branquitude burguesa, pois o racismo e a escravidão deram/dão contornos muito específicos a questão do aborto no mundo: ele aparece como resistência e recusa a reproduzir em condições tão bárbaras. O conceito de justiça reprodutiva, a partir da experiência de mulheres de cor, nos auxilia a refletir sobre as opressões que se interseccionam com gênero. Concluímos pensando com as experiencias de grupos de mulheres feministas que, na luta contra a colonialidade, se dedicam a acompanhar abortos autogestionados, em casa, com acesso aos medicamentos seguros e informações, contrapondo a ideia de “trauma” comumente atrelada ao aborto.
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